por: Tata
Engraçado como basta espalhar a notícia de uma nova gravidez e um bebê a caminho, para começarem a chover dicas de leitura, bíblias da gravidez, do parto e dos cuidados com o bebê, receitas infalíveis para uma gravidez saudável, uma 'boa hora', um bebê tranquilo e saudável. A gente fica atolada no meio daquele mar de dicas, regras e padrões, muitas vezes contraditórios entre si, sem saber a quem dar ouvidos.
Além dos livros, dos sites, das listas, tem a opinião dos parentes, as mães, as avós, as sogras, todos carregando nas costas a respeitável bagagem de anos e anos de experiência como pais, mães, avós, tias, cuidadores. Complicado, né?
Eu confesso que li muito pouco a respeito de criação de filhos desde o resultado positivo no exame de farmácia. Li um tanto sobre parto, porque aí a situação já é um pouco diferente: em uma realidade cesarista como a brasileira, se você deseja um parto natural, precisa informar-se, empoderar-se, cercar-se de dados confiáveis e evidências científicas para, no final das contas, conseguir conduzir o processo de forma a alcançar o tão sonhado nascimento natural para o seu filhote.
Mas sobre educação, nunca me interessei em ler. Desde que as meninas nasceram, li um ou outro livro da Sonia Hirsch, que aliás é bem bacana, um guia sobre cura natural para doenças infantis, e só. Nada mais. Da "Vida do Bebê", a famosa 'bíblia da maternidade' escrita em mil novecentos e bolinha pelo famoso De Lamare, passei longe, embora ela tenha repousado na mesa da sala de jantar aqui de casa por um bom tempo depois do nascimento das meninas. Coisas do marido, digamos, um tanto menos "desencanado" que essa mãe que vos fala.
A verdade é que uma coisa sempre me incomodou nesse tipo de leitura que em geral as mães, especialmente as de primeira viagem como eu, devoram avidamente. Nunca gostei da idéia de que bebês vêm 'prontos', chegam ao mundo acompanhados de um manualzinho de instruções, e reagem todos da mesma maneira aos mesmos comportamentos, às mesmas regras, às mesmas situações. Não compro essa idéia. Simplesmente porque cada ser humano é único, especial e incomparável.
Como eu poderia esperar que meu bebê, um ser recém-chegado ao mundo, tão fresco diante da vida, se encaixasse inquestionavelmente em um sem-número de padrões de comportamento estudados pelos assim rotulados "especialistas" no assunto? Ora, se os tais especialistas não conheciam o meu bebê! Poderiam conhecer centenas de outros, ter anos e anos de experiência, mas jamais haviam carregado o meu pequeno no colo (e jamais o fariam), não conheciam seu cheiro, não sabiam o que despertava seu sorriso, não reconheciam seus sonzinhos particulares, não seriam capazes de reconhecer seu choro entre dezenas de outros. Como poderiam dizer melhor do que eu do que precisava aquele serzinho tão singular que eu, com toda a intensidade do meu instinto maternal recém-descoberto, desejava avidamente conhecer, respeitar e compreender?
Uma das coisas mais bacanas que descobri depois que me tornei mãe foi o poder da intuição. A força que tem o coração, a sensibilidade, a sinergia mãe/bebê para nos indicar o melhor caminho a cada momento. Foi assim que eu agi sempre com as minhas meninas. Desde o começo, deixei que o meu sentimento, a minha conexão com elas, me dissesse o que, como e quando deveria ser feito. Foi assim com a amamentação exclusiva, quando cansei de ouvir que as meninas não engordariam, que perderiam peso, que passariam fome. Foi assim com o attachment parenting desde o princípio, com a 'livre demanda de colo, peito e aconchego', quando me repetiram exaustivamente que eu estava "acostumando mal" as minhas filhas. Foi assim com a cama compartilhada, quando todas as opiniões eram unânimes em afirmar que o bebê deveria ser independente desde cedo. E foi assim com muitas outras situações marcantes ao longo desses quase três anos, a introdução de alimentos, a (não) ida para a escolinha, o desfralde.
Eu acho que a chave do processo é não ter medo de errar. Ou ter um pouquinho, mas dar as costas pra ele e arriscar, comprar a briga, assumir a responsabilidade e fazer do jeito que a gente acredita, fazer de coração, fazer colocando a alma a cada passo. Eu não tenho a ilusão de que vou ser uma mãe perfeita para as minhas filhas. Sei que vou cometer erros, vou tropeçar aqui e ali, mas vamos levantar e seguir caminhando juntas. Eu aprendendo com elas, elas aprendendo comigo. Porque essa é a graça da brincadeira. Se a gente não se dispõe a aprender, a melhorar, qual é o sentido?
E o mais bacana é olhar pra trás e ver um caminho próprio. Não estamos caminhando por uma estrada já conhecida (e portanto sim, às vezes mais segura). Estamos construindo nossos próprios roteiros, nossa própria maneira de fazer as coisas, nossa própria dinâmica de família. Que é só nossa, e não se encaixa pra mais ninguém. Porque cada núcleo pai/mãe/filhos se combina de um jeito, se ajeita seguindo uma harmonia própria. Sim, ela sempre existe. O que precisa é ter coragem pra buscar.
“Caminhante, não há caminho. O caminho faz-se ao caminhar.”
(Antonio Machado)
Imagem: http://www.gettyimages.com/
Olá!
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Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
5 comentários:
Achei fantástico o seu texto. Eu ainda não tenho filhos, mas vontade aqui é o que não falta. Esses dias me peguei pensando se eu saberia o que fazer com o bebê, quando eu engravidar. Se eu saberia limpar direito as dobras das perninhas, se eu saberia identificar o motivo do choro dele.
E, lendo seu texto, me veio a resposta: claro que sim! Nada é maior que essa ligação entre mãe e filho. E mesmo que seja a primeira vez a enfrentar essa realidade, eu vou saber sim o que fazer. Intuição mesmo. Sentimento.
Lindo, Renata.
Vou linkar esse espaço lá no Quintal também tá?
Beijos.
Renata, esse texto me fez sair de uma crise hoje.
É tão legal ser mãe, mas, às vezes, é tão chato ter que explicar esse encontro pessoal e as escolhas que surgem dessa relação mãe e filho quando se é uma materna... ai, ai, sei que estou na via certa, mas tem dias que me cansa não conseguir traduzir em palavras que essa forma que escolhi para viver com a minha filha é a ideal: para mim e para ela.
Nunca penso em jogar a toalha, tem dia em que acho mais fácil fazer de conta que estou errada, mas uma inquietação angustiante me corta: como a pessoa não vê que é diferente???
E é nessas horas que me sinto abraçada pelas companheiras virtuais maternas, me amparando e mostrando que não estou só.
Sou fã deste blog.
Obrigada por partilhar esse texto.
Beijos pra vc
Ai Rê, é tudo isso aí e muito mais...
Tem que ter muito saco pra aturar palpites.
Muitas vezes ser educada sem querer.
A vida é nossa.
A trilha é nossa, e devemos sempre fazer da forma que sentimos.
É tão difícil de alguns entenderem isso...
bjs
é realmente muito recompensador estar caminhando do jeito que escolhemos, e ver tudo "funcionando" muito bem (obrigada!:)), com muitas flores na paisagem, e, claro, alguns dias chuvosos também! para dar mais graça!.
que cada um de nós descubra a fé e a delícia de seguir seu próprio caminho.
adorei o texto Rê!
beijos
se tivesse receitas, todos os filhos seriam igual. já pensou que chatice?!
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