
por: Tata
Amamentar é uma das coisas mais bacanas da maternidade. Bom, pelo menos eu acho.
Eu me lembro como se fosse hoje da primeira pegada das meninas no seio. Logo após o parto, uma em cada peito. Apesar de tudo o que não tinha saído conforme o planejado no nascimento delas, naquele momento eu me senti realizada, inteira como jamais havia me sentido: eu e minhas filhas estávamos ali, conectadas, e nos bastávamos. Ainda que o resto do mundo desaparecesse, eu daria conta, porque o meu peito era tudo o que elas precisavam. Essa sensaçao é, até hoje, das mais poderosas que já vivenciei.
Depois, vieram as dificuldades: bebê com problema de pega, agitada no peito e sem conseguir mamar direito, mamilos machucados e sem fôlego para cicatrizar com a livre-demanda, pediatra que nao apoiava o aleitamento exclusivo de gêmeas, receita de complemento debaixo do braço. Isso tudo, somado ao cansaço típico de quem tem em casa duas bebês de poucos dias para alimentar, trocar, embalar, enfim. Lembro-me de, muitas vezes, encolher-me num canto sossegado da casa e chorar sozinha. Por um lado, a sensaçao de ser exigida demais, de que nao daria conta do recado. Era o cansaço falando. Por outro, a certeza incontestável de que meu corpo era perfeito, de que eu tinha tudo o que minhas filhas precisavam para serem felizes e saudáveis. Era o instinto animal, o bicho fêmea que, no final das contas, gritou mais alto. Ainda bem.
A tentação de uma lata de leite em pó ao alcance das mãos é enorme. Eu sei bem. No auge do desespero de uma noite mal (ou nem isso) dormida, quando a gente ouve aquele chorinho pedinte a começar tudo de novo, e sente como se nunca mais, para o resto da vida, fosse poder descansar mais de cinco minutos e ter algumas horinhas para si, a gente pensa: "uma mamadeirazinha só, que mal pode fazer, uma vezinha só não vai nem fazer diferença, não sejamos tão radicais...". Somos humanas, falíveis, temos nossos limites. Eu não condeno quem cede, porque acho que cada um sabe até onde quer, pode e deve ir. Mas é que às vezes, se a gente se dá mais uma chance, se tenta mais um pouquinho, se junta o restinho das forças que sobraram e tenta dar mais um passinho que seja, a gente acaba descobrindo que o limite não era bem ali. Dava para ir mais adiante, para tentar mais um pouquinho. E é nessa hora que a gente saca que pode muito mais do que imaginava.
Eu acredito que três coisas são fundamentais para que se construa uma história de sucesso na amamentação: apoio, informação e fé. Apoio, porque tem horas que só mesmo com a ajuda do outro, com uma palavra de incentivo, com um sopro de coragem é que a gente consegue tirar uma pedra do meio do caminho. Informação, porque o que tem de orientação equivocada por aí quando o tema é amamentação, não está escrito. E fé, porque nada disso vai adiantar se você, no final das contas, não puder olhar para dentro e sentir que pode, simplesmente porque a natureza é perfeita, porque seu corpo foi feito para isso, e porque náo importa quantos mihares de anos tenham se passado desde que o primeiro exemplar da espécie humana pôs os pés sobre a Terra, quando uma mãe pega seu filho no colo, é uma relação de puro instinto. Um amor animal, uma simbiose que não se explica, não se questiona e não se destrói.
PS: Se você ou alguém que você conhece vem passando por dificuldades com a amamentaçao, entre em contato com as meninas da Matrice, com as Amigas do Peito, dê uma passada no site da La Leche League (em inglês) ou contacte o banco de leite mais próximo. Você pode amamentar seu filho, e até os seis meses pelo menos, ele nao precisa de absolutamente nada além do seu leite. Acredite em você, acredite nele, acredite na perfeiçao da ligaçao mae/filho, porque essa pertence a vocês, e nada nem ninguém pode lhes tirar.