Tem gente por aí sonhando que para ser mamífera é preciso deixar a maquiagem na gaveta, as belas roupas nas vitrines, a vaidade no armário, a sexualidade no porão, vestir uma capa de gordura, um cabelo desleixado, largar o trabalho, deixar o peito cair, não passar desodorante, aplicar perfume de ocitocina, fazer ginástica de dedo para apontá-lo fundo para outras mães.
Cada um vive a maternidade, a feminilidade como pode e quer. Eu, por exemplo, sempre fui muito vaidosa. Adoro cuidar da minha juba leonina com banhos de cremes, tratamentos para domar os cachos. Apesar de viver no meio do mato, de amar caminhar descalça no chão de barro, gosto de fazer as unhas semanalmente, depilar mensalmente.
Durante a gestação pratiquei Yoga, Natação, caminhadas até o último dia. Me sentia tão linda com minhas formas arredondadas, muito mais feminina. Não me descuidei da alimentação, nem desconectei-me do meu corpo. Fazia parte do meu ritual diário um banho demorado, massagem nas pernas com cremes que aliviavam o peso, produto para evitar estrias na perna, bumbum e barriga. Ganhei 11 quilos durante meus deliciosos 9 meses, em que a vida sexual também não deixou de estar presente com intensidade.
Lembro do meu banho, pós-parto, em que me sentia vitoriosa cheia de poder, repleta de ocitocina. Um delicioso banho morno que foi seguido por vários cremes, assim como fiz durante a gestação. Olhei no espelho, passei um batom ajeitei o cabelo, escolhi uma roupa bonita e desci para ficar no sofá de casa, enquanto as enfermeiras terminavam de arrumar a casa.
No dia seguinte, ao acordar depois de uma deliciosa noite de merecido sono, passei base no rosto, blush, batom para receber as pessoas que chegavam. Escolhi uma blusa que facilitava a amamentação.Estava linda para receber minha família, cheia de disposição para fazer um cafezinho e entusiasmo a contar da linda trajetória do nascimento do meu menino.
Vinte e sete dias após meu parto, a atividade sexual voltou a estar presente aqui em casa. Afinal, a vida de casada começou junto com a maternidade, e o fogo do início de casamento não esfriou com o nascimento. Me sentia ainda mais apaixonada por aquele homem que me permitiu parir e foi um grande suporte para que vivesse plenamente os primeiros meses da maternidade. Por sorte, podia dormir junto com meu pequeno, várias vezes por dia. Isso garantia uma grande demanda de leite e disposição para cuidar de mim, dele e sobrar energia para namorar bastante. Miguel foi um bebê tranqüilo que quando não estava dormindo, mamava, mas que já nas primeiras semanas já dormia 4 horas seguidas na madrugada.
Com 30 dias, comecei a praticar caminhada, com Miguel no sling, na mata que circunda minha casa e comecei a receber uma manicure que vinha aqui em casa quinzenalmente. Com dois meses comecei a ir para o salão na cidade, com Miguel no bebê conforto e fazia um verdadeiro malabarismo, para dar de mamar, enquanto fazia as unhas, arrumava o cabelo e depilava.
Foi com 47 dias que fiz minha primeira viagem de avião com Miguel,seguidas de muitas outras de carro. Recém-nascido é uma delícia porque não precisa de nada mais que peito e sling. Viajamos para praia, para a Bahia, para cachoeiras. A limitação existe, na minha opinião, muito mais na cabeça do que necessariamente com a vida com o bebê.
Aos 8 meses, voltei para Yoga para eliminar os quilos a mais que ainda não tinha perdido da gestação. Era uma delícia sair algumas poucas horas e me permitir estar comigo mesma. Trazia-me uma renovação incrível.
Recentemente lancei-me em um novo desafio de eliminar definitivamente 10 quilos. Com um meninão de 3 anos, podia agora pensar em mim sem prejudicá-lo na amamentação. Fiz uma dieta de reeducação alimentar e comecei a correr diariamente, 50 minutos. Miguel vai para escola pela manhã e nestas quatro horas que tenho disponível, corro, medito, trabalho.
Aliás, nunca deixei de trabalhar. Tive a sorte de ter uma licença maternidade e salário fixo até Miguel ter um ano de idade. Trabalho esse que realizava de casa, com algumas idas a São Paulo com períodos curtos que ficava fora de casa.
Hoje posso dizer que nunca me senti tão bonita, que nunca lidei com uma vaidade profunda de uma feminilidade bem resolvida. Tenho a beleza dos 30, com o perfume da maturidade. Voltei a caber nas calças 38, coisa que há 10 anos não vestia. Com a corrida, ganhei pernas torneadas, barriga durinha, que a gestação deixou duas pequenas estrias finas que me lembram com orgulho de um tempo de uma barriga cheia. Meus seios, que ainda amamentam, mas que recebem creme contra a flacidez, continuam firmes e fortes, me permitindo até mesmo usar blusas sem sutiã, assim como fazia quando tinha 18 anos.
Ao mesmo tempo a maternidade me abriu portas para novos projetos. Hoje sou doula, fotografo gestantes e vislumbro um novo mercado com novas fontes de renda. Sem contar que continuo trabalhando para uma grande empresa de cosméticos para a qual faço um blog de beleza. Além disso, estou envolvida em muitos outros projetos como livros, sites sobre espiritualidade, programas sobre meio ambiente.
A maternidade nunca me limitou. Muito pelo contrário. Para mim foi a maior lição espiritual e humana que jamais ousei imaginar que seria tão profundo. Me abriu portas e janelas para mundos desconhecidos e fortaleceu ainda mais aquilo que acreditava. Através do meu nascimento como mãe, nasci mais mulher, mais bonita e segura. Minha vida sexual tornou-se ainda mais intensa e profunda, como todas as outras coisas da minha vida.
Aprendi a aproveitar mais meu tempo, minha mente se tornou mais focada, meus textos mais poéticos. Não foi a maternidade, mas sim como me permiti me transformar por ela, assim como fiz com a maioria dos eventos intensos da minha jornada humana.
Hoje posso dizer que sou uma mamífera perua, que pariu de parto natural, usa maquiagem, roupas sensuais, permite-se viver uma sexualidade plena, corre pela floresta, faz progressiva no cabelo, trabalha mais do que nunca transformando sonhos em projetos, dá de mamar orgulhosamente para um menino de três anos com peitos firmes e abertos para dizer que a limitação mora dentro da cabeça e quando ela se vai, quem nasce é a liberdade de mãos dadas com uma felicidade indescritível.
E você, como a maternidade te fez melhor?
Fotos do arquivo pessoal
12 comentários:
Costumo dizer que a maternidade me deu a certeza de que toda a minha vida até então fora um ensaio, porque ela começou de verdade depois da minha filha.
Me tornei um ser humano melhor por causa da minha filha; a maternidade me fez mudar totalmente sem que eu deixasse de ser eu mesma. Descobri uma força interior que não sonhava possuir e ao mesmo tempo ganhei uma fragilidade que nunca tive. A vinda da minha filha me fez rever muitos (pré)conceitos e vivenciar uma intensa desconstrução do ‘eu’. Mas sei que ainda tenho muito a aprender com ela e muito o que mudar para melhor por ela.
Mas confesso que tive uma certa dificuldade de reconciliar a mãe e a mulher vaidosa dentro de mim. Passei por alguns problemas na amamentação e fiquei tão focada nisso que deixei todo o resto em segundo plano. Depois que tudo foi superado voltei a dar atenção a uma série de coisas em mim. Mas foi um recomeço difícil. Amei estar grávida e me sentia linda durante os 9 meses. Depois que a Alice nasceu, ao mesmo tempo em que me via com uma beleza tão singular por causa da maternidade, não conseguia me reconhecer no próprio corpo. Quando ela fez 10 meses comecei a voltar a usar as minhas roupas, mas ainda falta um tanto, aos poucos vou conseguindo encontrar o equilíbrio tão necessário.
E a relação com o pai dela ficou melhor, mais intensa e verdadeira.Ainda que não possamos fazer por algum tempo as mesmas coisas da época do namoro, desfrutamos melhor o tempo juntos, enfim...a relação cresceu.
Bjão.
Ah, eu também acho que a limitação está na cabeça das pessoas (principalmente nas que se deixam levar pela cabeça das outras).
Como a maternidade me fez melhor? Foi o meu "tratamento" de beleza!
Achava lindo ter as pernas grossas e caminhava 12 km por semana numa pista de atletismo até os 8 meses de gravidez, quando então parei por recomendação médica. Por isso, comi à vontade, bebi à vontade e preferia mesmo a boa alimentação, uma salada bem colorida e muito arroz com feijão, porque eu gostava de me sentir bem e driblar a queimação sentida pela compressão no tamanho do estômago.
Não me lembro de ter me achado tão bonita quanto me achei 10 dias depois de parir... Abdômen, seios, tudo! Emagreci tudo que ganhei em 40 dias, depois ainda mais porque o bebê mamava horrores, tive que ser auxiliada por complemento vitamínico para parar de perder peso. E ainda tem mãe que não vê vantagem em amamentar... puf!
O casamento vai muito bem, obrigada, justamente por causa do bom parto, do bem sucedido pós-parto e da magia que um filho traz para um casal. É tudo muito lindo, mas há o lado complicado da adaptação logo que entra "gente nova" dentro de casa, né? É claro que isso deve ser dito... Nada que um pouco de compreensão, diálogo e boa companhia não resolvam. São as pessoas quem complicam os relacionamentos, eles são simples por si só. Se não são mais, terminam, também muito simples é saber quando não quer mais.
É, temos mais é que desmistificar a existência da gravidez saudável, porque nós mulheres podemos isso e muito mais!
Um abraço,
Michelle
Oi Kalu!
Adorei este post! Confesso que não sou tão vaidosa e muito menos disciplinada! Os cremes ficam lá, me olhando, me olhando, e eu sempre passo na segunda feira, hahahaha, igual à dieta!
Mas a maternidade me transformou muito! Antes eu era do tipo mulher independente que trabalha fora super moderninha. Achava super normal cesárea eletiva, deixar bebê no berçário, dar mamadeira, não pegar no colo, deixar chorar, essas coisas.
Durante a gravidez, lá pela 30a. semana comecei a brigar pelo meu parto normal, que ainda que não tenha sido O PARTO, foi lindo e me modificou. E foi só ela nascer e eu olhar para ela no meu peito que tudo se transformou em segundos!
Eu ainda trabalho fora, o meu trabalho não me permite trabalhar em casa, mas todo o meu tempo livre é dela (e do marido, claro, hehe). Com ela não tem cansaço, não tem coisa ruim, é só ela me olhar e estender os bracinhos que o meu dia tá ganho!
E dou muito colo, ainda que morra de dores nas costas! Não deixo ela chorar não, amamentei 8 meses e só não amamentei mais porque não soube fazer a transição quando comecei a trabalhar, dei mamadeira 1x ao dia e aí ela desistiu do peito. Com o segundo filho quero fazer diferente, agora tenho muito mais informação e convicção daquilo que eu quero!
Mas foi ela, a minha pequena Ísis que mudou os meus preconceitos e evoluiu as minhas convicções!
Sou uma mulher/mãe/esposa melhor por causa dela!
Beijos!
Nine
Totalmente de acordo, Kalu.
Aqui, antes da maternidade nunca me preocupei muito com moda, beleza e tinha uma vaidade muito limitada.
Depois da maternidade me senti mais feminina, mais mulher. Minha sexualidade melhorou muito depois de parir.
Só senti melhorias no meu corpo depois da gravidez e com a amamentação. Minhas espinhas sumiram, minha barriga ficou mais sequinha e uso um número menor de calças do que antes da gestação.
Comecei a ler sobre moda e aprendi a brincar com todas as possibilidades. E me divirto montando "looks" que se identificam comigo (e não o contrário).
Me sinto mais bonita, mais bem cuidada. Estou sempre de unhas pintadas (por mim mesma, depois que meu filho dorme).
Mas, mais importante do que tudo isso, é que sei que a minha beleza não depende de maquiagem ou roupas da moda. Que posso sair de cara lavada e me sentir linda e poderosa, como muitas vezes acontece. Afinal, o que nos deixa realmente belas, não se vê. Está dentro de nós. E não são todas que podem dispensar a máscara da maquiagem e da peruice.
Beijos.
Aline Tavares
De todos os textos que você já postou, e gosto muito do que você escreve, achei esse o melhor. Porque você se expressou de uma forma muito "mulher", entende, como muitas de nós. Achei isso interessante e acho que estava na hora.
Bom, a maternidade também me trouxe mais beleza, mais oportunidades de trabalho, retomei alguns estudos. E com relação ao corpo não precisei fazer esforço algum para mantê-lo bonito nem durante e nem depois da gestação. Apenas me conectei com a natureza, com uma alimentação saudável e engorgei 8 quilos na gravidez. Agora, passados 1 ano e dois meses do parto, estou magra como nunca estive antes, trabalhando, cuidando da minha pequena que ainda amamento, mais vaidosa, com os cachos assumidos, e muita energia para gastar... Sinto-me mais fêmea, agora sim, verdadeiramente mulher.
Ser mãe é uma benção. E como a lua, a que mais nos fascina é a "cheia", símbolo da Mulher madura.
Parabéns pelas conquistas!
Camila.
Kalu, você é um exemplo de mulher, mãe, esposa e profissional!!!Parabéns...
Meu filho me fez a mulher mais feliz e realizado do mundo.Amo ser mãe!!!
beijos
Val e Gui
Gostei do Blog achei o máximo, já estão nos meus favoritos. Bjão Cacau
Kalu, comento super pouco..mas ADOREI o post! As pessoas tem que parar de achar que filho limita...filho liberta a gente para coisas novas! E muito melhores.
Beijos
Fê
Perfeita como sempre!!
Adorei Kalu!!
A maternidade me faz melhor diariamente! Sou tão feliz por ser mãe dos meus pequenos, por eles serem como são! Isso me faz mais bela!!
Também adoro uma peruagem!! O texto me fez lembrar um dia em que depois de uma tarde toda no salão (unhas feitas, sombrancelhas delineadas, cabelinho "esticadinho"), estávamos jantando na casa de um casal amigo, tinham algumas que nós não conhecíamos, e quando perguntaram ao Gabriel quem era sua mãe, ele disse:
É aquela linda sentada ali na mesa!!
Adorei!! Aqui em casa, para meus meninos, independente das marquinhas que a gravidez me deixou sou a mais bonita de todas!!
Concordo em gênero, número e grau! Mãe sim, desleixada nunca. Tá, tá bom, tem horas que a gente se descuida mas o importante é se dar o direito de estar bonita e produzida na medida em que gostamos/queremos/podemos. A fase do "avental todo sujo de ovo" já passou há muito tempo. Gosto de estar bonita para mim e para minha família. Fazer unhas não é futilidade, é ferramenta para o bem estar. Tem gente que medita, tem gente que coloca silicone. E assim vamos vivendo "cada um no seu quadrado". Bj nos pés (de unhas feitinhas, claro!). Daphne, doula de BH/MG
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