Por: Kalu
Quem me conhecia antes de ter filho me dizia: menina, se você tiver um filho ele não vai sobreviver!
Sempre fui daquelas que só não esquecia a cabeça porque estava colada, trabalhava com sapatos trocados (um de cada cor), me perdia pela cidade. Quando lançaram o filme "Procurando Nemo", muita gente disse que a peixinha Dory havia sido inspirada em mim.
Para quem não conhece, a peixa em questão, sofre de perda de memória recente, que a coloca em divertidas situações, que no fim acabam dando certo graças a seu humor, otimismo e intuição.
Quando engravidei haviam "histórias" engraçadas entre amigos do que aconteceria quando o Miguel nascesse:
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- Ela vai esquecê-lo em alguma loja de departamento!
Ou ainda:
- O Miguel vai aprender a falar logo para ajudar sua mãe a não esquecer das coisas.
Nem a gestação, nem o nascimento me tornaram mais séria ou organizada. Muito pelo contrário. A minha intuição aguçou de tal forma, que sempre despertei segundos antes dele acordar e sempre soube identificar e solucionar (ou acolher) suas dores. Escolhi por caminhos que se tornam motivo de piada, como dar banho de balde e carregar meu filho "naquela redinha". Aliás, acho que o Miguel sempre preferiu o sling para não correr o risco de ser esquecido.
Se eu fosse escolher um tipo de mãe para me classificar, escolheria o título de Mãe Dory. Perdi as contas de quantas vezes Miguel conseguiu chegar no vaso sanitário, sem eu perceber, para colocar seus brinquedos para nadar. Eu nunca briguei, aliás, achava engraçado. Miguel enjoou e nunca mais jogou nada. Só faz tchau para o cocô e o xixi. Aliás, eu não percebi que as dores nas costas eram Trabalho de Parto, e o meu expulsivo foi confundido com uma dor de barriga. Foi o instinto e a sorte que me fizeram levantar do vaso e parir no quarto.
Já contei por aqui o gosto do Miguel por rações de cachorro e insetos. Confesso que no começo criava uma verdadeira operação para evitar o consumo de proteínas de origem insetóide. Depois desencanei. O mesmo foi com a ração de cachorro.
Muitas vezes me vejo em situações engraçadas em que o Miguel me mostra minha carteira sobre o sofá de uma casa estranha ou volta para o banheiro para apagar as luzes e fechar as gavetas. Outras ele me avisa que fez cocô ou que a panela está pegando fogo porque me distraí sentada contando uma história.
Sinceramente, acho que não levo o menor jeito de mãe. Nunca consigo organizar uma bolsa com todos os itens que o Miguel precisa, ou dar comida e trocar fralda sem deixar o ambiente bastante bagunçado. Mas o que mais gosto de minha maternagem é a possibilidade de ser criança, uma criança que nunca deixei morrer. As vozes que crio para os fantoches, as palhaçadas que invento e que o Miguel gargalha sem parar e tenta imitar. Adoro arrastá-lo pela casa sobre um cobertor velho, descer barranco na caixa de papelão, brincar de guerra de areia.
A alegria de compartilhar, a presença intensa e dedicada as necessidades do meu filho me realizam por completo. Cada dia que ele cresce me exige menos cuidados e mais brincadeiras, que confesso, estou amando. Outro dia li um artigo de uma pobre mulher defendendo porque não ter filhos, mesmo sendo mãe de dois adolescentes. Desde que entrei e mergulhei de cabeça neste mundo da maternidade descobri que as coisas que me fazem feliz são simples. Em meio a conversas produndas e densas, sempre penso no Miguel com seu jeitinho meineiro a falar:
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- Tadinnnnn.... (tadinho, na versão mineira)
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Ou alguma palhaçada que me faz cócegas na alma. Acho que algumas mulheres (ou pessoas) se afastaram tanto de suas crianças anteriores, que a maternagem se torna pesada. Teorias profundas e racionalismo demais acabam endurecendo qualquer relação. Eu acredito em bases fundamentais para o sucesso de qualquer relação: dedicação (tempo com presença de coração) + respeito (com as necessidades individuais, do outro e a mágica de encontrar um caminho do meio) + liberdade + espiritualidade (o caminho para exercitar as virtudes).
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Crianças nos ensinam grandes lições pessoais, e até mesmo corporativas. Depois de convencer os pequenos a escovarem os dentes, fica fácil apresentar um super projeto para gente de cara amarrada. Sem contar que depois de ser mãe, aprendemos sobre liguagem não-verbal, como por exemplo a arte de saber quando estão aprontado naquela estranha casa silenciosa.
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Enfim, eu não nasci para ser dona de casa, nem dentista, nem eletricista ou engenheira. Mas definitivamente me realizo na maternidade, cada dia mais, com liberdade de ser companheira de meu pequeno, aquela que ele escolheu para dar as dores e amores de que ele necessita para desenvolver as potencialidades de sua alma. Tem gente que também não nasceu para ser mãe. E está tudo certo.
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E você, que tipo de mãe seria?
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Imagem: http://coisastuas.blogspot.com
4 comentários:
Nunca me perguntei que tipo de mãe eu sou. Mas uma vez li uma frase que jamais esqueci e que resume um pouco o que penso que seja ser mãe."
"A decisão de ter um filho é muito séria, é aceitar ter para sempre o coração fora do corpo"(Elisabeth Stone)
E desde que minha filha entrou em coma, 10 anos atrás, é assim que me sinto.Com o coração fora do corpo. Exposto e sangrando.
Um abraço.
PS.Obrigada Kathy, por seguir o blog de Flavia.
Querida,
Sua frase é profunda e sua história muito difícil. Sinta meu abraço e meu carinho.
Obrigada Kalu. Pelo abraço, pelo carinho e por seguir o blog de Flavia.
Boa semana.
Ainda não sou mãe, mas algumas pessoas do meu convívio dizem q não "sirvo" pra ser pq sou muito desligada, do tipo que esquece panela no fogo, esquece do vencimento das contas e por aí vai...como diz meu marido tenho o pé na horta e a cabeça nas nuvens! Tenho medo de ser uma mãe meio maluca, mas acho q é minha natureza ser assim, sempre fui "desligada" mesmo. Vamos ver se a maternidade me desperta, ou não! rs
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