Inflamo meu espírito, vibro minha alma quando defendo o parto humanizado. Minhas certezas são científicas e se concretizam no meu prazer por ter escolhido este lindo caminho.
Mas ela, a cesárea, cirurgia tão cultuada nestas terras de mulheres que seguem médicos como deuses e correm das dores físicas e existenciais, está aí para salvar vidas, como aconteceu com algumas poucas mulheres que, certeza tenho, que não havia outra possibilidade de vida, se não fosse ela.
Mas ela, a cesárea, cirurgia tão cultuada nestas terras de mulheres que seguem médicos como deuses e correm das dores físicas e existenciais, está aí para salvar vidas, como aconteceu com algumas poucas mulheres que, certeza tenho, que não havia outra possibilidade de vida, se não fosse ela.
Esta minha certeza se dá porque estas mulheres estavam com uma equipe humanizada, em ambientes cuja humanização é bem-vinda.
Não se trata da ilusão utópica de algumas que “querem convencer” um cesarista a abraçar a humanização na hora do parto, em um ambiente hospitalar tecnocrata; muitas que se lançam na sorte dos plantonistas; há ainda aquelas que se convencem da necessidade de uma cesárea pelas causas mais bobas como circular de cordão, bebê grande, bebê alto, barriga baixa e outra série de “inventares” médicos que não podem ser encontrados em nenhuma publicação científica.
Estas mulheres que cito e com elas faço luto neste texto, saíram da zona de conforto, buscaram uma equipe humanizada, reviraram sua existência para conceber um parto humanizado. Elas avançaram muito, tiveram discursos inflamados contra a cesárea, embrenharam-se nas ONGs de humanização.
Cada uma em sua linda jornada, deixaram seus corpos dilatarem, até 8 ou 10 cm. E quando todos os recursos falharam chegou a hora de agradecer e entregar o corpo para a tecnologia, que agora sim, é bem vinda.
Elas experimentaram o sabor amargo da anestesia, sua coceira posterior, cefaléia, dormência que muitas vezes até impediu de segurar direito o pequeno ser nos braços. Junto com a cicatriz física, a latente pergunta que nunca poderá ser respondida: por quê?
O parto é um mistério. Nele parimos tanta coisa, vivenciamos tantos estados e muitas vezes, não é possível de primeira conseguir. Isso não significa que numa próxima vez irá falhar novamente. Quantas não conseguiram seus maravilhosos partos vaginais pós-cesárea e puderam como ninguém, falar e sensibilizar as pessoas sobre a possibilidade dos seus corpos?
A estas mulheres guerreiras que não puderam vivenciar o sonho do parto humanizado, minhas profundas reverências, admiração e carinho. Que vocês não desistam porque maternidade não se resume a via de parto. Que tudo que foi construído se transforme na humanização da maternidade. Que seus filhos possam mamar exclusivamente em seus peitos até 6 meses e por quanto tempo quiserem; que vocês durmam abraçados; que não o deixe chorar; e não havendo o que fazer, entender que algumas coisas não podem ser evitadas; que superem o diabinho do complemento, da chupeta; que possam estar por mais tempo juntos.
E que, principalmente, sintam orgulho de si mesmas, de suas conquistas, de sua superação e quando a cicatriz arder, que a sua dor se cure na face doce do bebê que repousa em seu colo.
E que você , da próxima vez, volte aqui para contar uma história de parto diferente.
16 comentários:
Ah, to chorando kalu.
Incrivel o texto, eu pude presenciar ha 11 anos a luta da minha irma pelo parto normal, entrou em trabalho de parto, ficamos a noite toda no hospital e realmente nada de deilatação. Não sei dizer se foi o nervoso misturado ao hospital. Por ser bem nova nao me lembro exatamente se teve soro com ocitocina, mas sei q nao engrenou e depois de varias horas ela teve q fazer cesarea. Espero que se ela tiver outro filho eu possa ajuda-la a tentar novamente o normal, apesar dela ter ficado traumatizada. MAs tenho certeza que quando eu conseguir ter meu PD ela veja se eu posso, ela tb poderá.
Bjinhus
Kalu, vc incorporou meus sentimentos em relação à cesárea. Lutei muito pelo parto normal,dei o melhor de mim, dei toda a minha fé e energia, mas ele não pôde acontecer: não evoluiu depois de 20 horas de bolsa rota, sem sair dos 6 cm, q chegaram mt rápido; e eu estava muito bem acompanhada, de gente humanizada, de gente boa. Isso me engasgou por muito tempo, até q li algo redentor escrito por VOCÊ aqui no blog, que me libertou: nao temos o parto que queremos, mas o que precisamos. Fiz disso um mantra e superei a crise. Obrigada pelas reflexões. Em muito discordo de vc, mas é essa dialogicidade que dá força ao pensamento e impulsiona a vida pra frente. Abração e força na peruca!
Que lindo, Kalu, adorei o texto. Muitissimo obrigada. Você disse tudo. Que os próximos partos venham com novas e lindas histórias...
beijo grande
Mais uma vez me identificando com o texto. Só posso parabenizar...
kalu, que carinho bom esse....com certeza virei contar novas histórias
Kalu, adorei o texto.
Tomo a liberdade de me incluir entre as que tiveram cesáreas necessárias, apesar de não ter dilatado tanto assim...
Considero minha cesárea necessária pois as estatísticas relacionadas aos partos pélvicos em primíparas, associadas à experiência quase zero dos obstetras - mesmo os "dos nossos" - com esse tipo de parto, para mim foram clara indicação de cesárea. Não sem dor, não sem dúvida, não sem cicatrizes na alma.
Entrar em TP foi uma das coisas mais deliciosas em meio à tristeza da cesárea.
Beijos
Não considero minha cesa fisicamente necessária mas foi importante no processo de empoderamento - meu e de outras tantas que pariram em VBACs lindos, muitas com meu apoio!
Superei a cicatriz, pari e continuo parindo junto com minhas doulands.
Beijocas!
Lindo e emocionante texto!
Eu tive uma cesárea necessária nas circunstâncias em que eu me encontrava (38 horas de tp, dilatação total há 4 horas, bebê defletida e alta, mecônio já ficando espesso, etc.), mas que TALVEZ não fosse necessária se eu tivesse ficado em casa, como eu desejava, e evitado o excesso de adrenalina e os seus desdobramentos que estar no hospital me causaram.
Nem preciso dizer como será meu VBAC.
Bjs,
Van
E o que dizer de quando você foi atrás, se informou, pegou dinheiro emprestado para pagar a equipe humanizada e ainda assim termina numa desnecesárea com 9cm de dilatação??
Nem mesmo a sensação de que foi necessária para ajudar a diminuir a dor...
Lindo texto, pena que eu não tenho esse consolo. Mas na próxima...
Ah, este texto é a minha história.
Termino de ler com lágrimas amargas que caem na maozinha de um menino de sete meses sentado no meu colo.
Se esta dor tem cura, nao sei...
Me sinto roubada no meu momento maior: o nascimento do meu filho, traida pelo meu corpo(pq nao funcionou), pela vida, por Deus, por tudo.
E tentando ser uma mae amorosa para um menininho que nao tem nada com isso...que apenas quer amor.
Eva
Ah, este texto é a minha história.
Termino de ler com lágrimas amargas que caem na maozinha de um menino de sete meses sentado no meu colo.
Se esta dor tem cura, nao sei...
Me sinto roubada no meu momento maior: o nascimento do meu filho, traida pelo meu corpo(pq nao funcionou), pela vida, por Deus, por tudo.
E tentando ser uma mae amorosa para um menininho que nao tem nada com isso...que apenas quer amor.
Eva
Lindo texto, KAlu. Realmente a pergunta por quê? me acompanhou um bom tempo, mas já saí dela. Me senti homenageada pelo seu texto e não desperdiço a cesárea como um lindo passo em direção ao sagrado. Fou uma experiência (cirúrgica ao invés de orgásmica)que me traz louros diariamente e me ajuda a me compreender. Aguardo o dia de vir contar um PARTO.
Obrigada, Geozeli, mãe do Francisco, 10meses
Obrigada! Depois de 36 horas desde a primeira contração e 24 h tentando de todas as meneiras em casa com a equipe de humanização, foi com a cesaria que o Tomaz veio ao mundo,há 10 meses atrás. É confortante ouvir outras histórias, compartilhar e poder escorrer as lágrimas com um sorriso no rosto em saber que as histórias acabarem bem, afinal, os novos seres estão no mundo em atuação! Bjocas a todas Ana
obrigada pelo texto.
Muito bonito. Estou emocionada.
bjos
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