Dor e delícia da vida em família

por: Kalu

Sábado. Família toda reunida: tios, tias, primos, avô, avó, bisa. Todos nos aguardavam ansiosos porque fazia muito tempo que não participava de eventos familiares. Moro em Belo horizonte e toda a minha família é do interior de São Paulo. Mas sempre fui meio avessa a estes encontros regados à cerveja e carne.

Depois de muitos anos de vida alternativa me surpreendi com a recepção: uma infinidade de saladas e sucos nos aguardavam. Foi muito legal perceber que minhas escolhas já não são motivos de discussões e simplesmente são respeitadas e acolhidas. Todas meus primos, com 19, 14, 12, 09 anos rodearam o Miguel para brincar com ele. Cuidaram, brincaram como eu mesma sempre fiz com cada um deles. Acharam o máximo as palhaçadas que fazemos juntos, como brincar de circo, aula de yoga e imitar cachorro pela casa.

Cada um deles começou a abrir a caixinha de lembranças, contando de todas as travessuras que aprontávamos juntos: as brincadeiras proibidas, roubo de doces em festas, passeios divertidos. Cada um tinha uma história mais engraçada para contar de toda a folia que eu criava com cada um deles. Até que minha prima disse: o Miguel é o bebê mais sortudo de ter uma mãe tão maluca como você! Senti meu coração cheio de orgulho.

Daí lá pelas tantas Miguel pediu para mamar. Todos olharam e não falaram nada. Elogiaram minha disposição e dedicação. Fiquei tão surpresa. O Miguel viu uma foto de Jesus na casa. Juntou as mãos e depois saiu correndo. Meu tio veio me contar surpreso e admirado a atitude dele.

Foi um dia gostoso, como nunca tinha experimentado antes. Com cores diferentes e um sabor de respeito saboroso. Sim, sou diferente, mas é possivel viver em paz. Da mesma forma como percebi minha importância para meus primos, pensei na importância das relações de família para o Miguel. Isso é algo que passarei a cultivar com mais carinho. Afinal, aprender a viver com diferentes é o primeiro passo para a construção de uma socidade pacífica.

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