///
por: Tata
Já faz algum tempo, mas eu me lembro perfeitamente de alguns sentimentos de quando eu era criança. Tem coisas que a gente vive e são tão intensas, que por mais que o tempo passe, a gente recorda. Basta fechar os olhos, e é como se sentisse de novo.
Eu me lembro perfeitamente, por exemplo, de como na minha meninice os adultos me pareciam seres de outro mundo, absolutamente distantes, diferentes do que eu era. Eu, que ao olhar no espelho via uma menina tão pequena e tão cheia de perguntas sem respostas, tão encafifada e indefesa diante das imensidões do mundo.
Eu me lembro de olhar para os meus pais, e para os pais dos meus amigos, com uma admiração estufada, quase uma adoração. Diante dos meus olhos de menina, eles pareciam tão inteiros, tão sábios e poderosos, tão robustos diante da vida. Eles podiam tanto, podiam tudo.
Se eu fechar os olhos, sou capaz de sentir como se fosse hoje as inúmeras noites da minha infância em que eu, tendo ido dormir, acordava lá pelo início da madrugada e ouvia as vozes de minha mãe e de suas amigas, conversando em tom de voz baixo na mesa da cozinha. O zumbido insistente do motor da geladeira fazia fundo aos meus pensamentos, enquanto eu acompanhava atenta e fascinada o sussurrar das conversas dos adultos.
Eu me lembro especialmente da fascinação fervorosa que tinha por minha mãe. Minha mãe era poderosa, sábia como todos os adultos. Mas era mais. Pra mim, ela era uma super-heroína cheia de saberes e poderes inimagináveis. Não havia problema que ela não pudesse resolver, não havia pergunta que ela não soubesse responder. Ela podia tudo, sabia tudo, era capaz de tudo. E quando tudo mais falhasse, eu sempre sabia que podia contar com o colo dela, santo remédio para todas as dores. Aninhada em seu colo, eu estaria sempre protegida, e nada de ruim jamais me alcançaria.
Hoje, anos e anos depois, sou eu quem oferece o colo às minhas meninas, quando o mundo lá fora amedronta mais do que de costume, quando há ameaças, sustos, tristezas e dores a se curar. Hoje, sou eu quem conversa à meia voz na mesa da cozinha, ou no sofá da sala, cuidando para não acordar as crianças já adormecidas. Não consigo deixar de pensar na maravilha do tempo, em como ele nos ensina, em como ele tudo transforma, fatos, sentimentos, visões de mundo.
Hoje, imagino que minhas filhas me olhem admiradas, pensando o mesmo que pensei de minha mãe, um dia: que sei tudo, que tenho todas as respostas, que jamais fico em dúvida ou me assusto, que sou sempre forte e segura. Aos olhos delas, devo ser uma fortaleza.
Acho que quando a gente tem filhos, passa a entender melhor nossos pais. Entende que eles não eram super heróis, que não sabiam tudo e que, muitas vezes, diante de certas encruzilhadas, estavam mais perdidos do que nós. Entende que eles eram então aquilo que somos hoje: pessoas imperfeitas, com suas qualidades e muitas questões e muito o que crescer e aprender, tentando, dando o melhor de si, acertando e errando de vez em quando.
Eu espero que minhas filhas possam ver em mim a super heroína que precisam que eu seja. Mas que saibam perdoar quando descobrirem que não sou. Que acolham minhas certezas e minhas dúvidas, assim como eu, adulta, pude acolher minha mãe, que hoje sei imperfeita, complexa e maravilhosa.
E a grande maravilha do tempo, no final das contas, é que ele quase tudo transforma, mas algumas coisas perdoa. E colo de mãe é assim, resiste ao tempo. Eu, hoje, moça feita, já passando dos trinta, ainda me encolho e me permito ser menina de novo no colo de minha mãe. Assim como minhas filhas serão sempre meninas, quando aninhadas entre meus braços.
E mãe pode não ser assim tão perfeita como a gente imaginou um dia, pode não ter todas as respostas nem saber tudo de tudo. Mas não tem colo igual ao dela.
Colo de mãe é sempre absoluto, mágico, e cura tudo. De joelho ralado a coração partido.
Imagem: http://smedinacosta.blogspot.com
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
6 comentários:
http://ojadere.blogspot.com se deliciem nas memórias de quem as conserva e que acho fundamental que assim o seja! Parabéns pelo trabahlo acompanho quase que diariamente.
Parabéns Tata... esse texto mexeu muito comigo!
obrigada
Com certeza há memórias que ficam para sempre...Me lembro saudosamento do cheiro da minha lancheira e do giz de cera..Adoro quando isso acontece...
lindo lindo lindo tata! suas palavras sempre sábias e lindas!
Minha mãe e minha filha são tudo na minha vida!
um beijo
;*
Oi Tata
eu tenho uma amiga que a mãe dela não é assim...
a mãe dela é pior coisa que o mundo já botou na frente dela...
eu e nossa outra amiga em comum conversamos muito com ela...as vezes a mãe pode vir na forma nao de super-heroína, mas de supervilã...e cada um tem sua estrada, cada um tem sua história, né...mas as mães não são iguais...as pessoas não são iguais...
oi alexandra, é claro que sempre existem as exceções, para tudo na vida, não é mesmo? mas acho q a regra é essa de q falei aqui no texto... cada uma do seu jeito, as mães são sempre um colo onde a gente pode se aninhar na hora do aperto.
Lua, muito bom poder ter essas pessoas especiais na nossa vida, né?
Stephanie, como essas memórias são deliciosas e é bom carregar com a gente, não?
Angela, q bom q gostou...
Ariane, obrigada pelas palavras e pelas visitas!
bjo bjo bjo
Postar um comentário