Parir em Casa: Loucura ou Sanidade?

por: Kalu

Desde que meu filho nasceu em casa, virei ativista do Parto Domiciliar. Não sou a pessoa mais capaz de falar sobre as diferenças entre os 2 tipos de parto( domiciliar e hospitalar), por ter vivido apenas um deles, mas, pelos relatos que ouço por aí, as mulheres que vivenciam um parto hospitalar, em gestações posteriores procuram propiciar a si e seus filhos o nascimento em casa.

Quando fui visitar a Casa de Parto Sofia Feldman aqui em Belo Horizonte, fiquei encantada com o atendimento humanizado oferecido em uma comunidade super carente. Com aquela cara de estar em casa, os quartos tem música clássica, uma mesa comunitária com alimentos para as gestantes em Trabalho de Pato, um quarto com banheira para quem optar em parir dentro da água.

Em cada cantinho há aquele clima de tentar parecer em casa, o que me leva a dizer: Por que não em casa?

Sempre que faço esta pergunta ouço a frase: quero pelo menos estar perto de um hospital no caso de algum problema. Eu concordo que nosso imaginário está povoado de informações de que parto é um evento médico, que nascer é perigoso, uma coleção infinita de histórias de mulheres que “tentaram” a todo custo um parto normal e ela ou filhos sofreram com problemas mil.

O que insisto em afirmar é: parto é vida e não doença. Se a gente realmente confia na equipe que nos acompanha, esse medo dos problemas deveria desaparecer. Conheço, por exemplo, a história de uma amiga querida que tentou seu parto domiciliar. Quando a bolsa rompeu, sem o início do TP, estava com mecônio. Ela teve febre e foi encaminhada para um hospital humanizado por precisar de monitoramento. TP estacionou, ocitocina, batimentos fetais caíram vertiginosamente e com 10 cm ela foi para cesárea. Bem indicada, de fato.

Com este exemplo podemos perceber que o Parto Domiciliar é a primeira opção para a mulher, no caso de uma gestante de baixo-risco, com certas regras estabelecidas pela parteira que irá prestar atendimento ao parto.

Eu optei por um parto domiciliar como primeira opção porque:

• Não queria ir cedo demais para o hospital (para não correr o risco de ofrer intervenções que sei que podem levar a uma cesárea)


• Não queria em pleno trabalho de parto ter que pensar em sair de casa e enfrentar uma distância sentada no carro. (Quem passou por isso pode relatar o quão inconveniente é?)


• Mesmo contratando uma equipe humanizada, não queria entrar na vibração de um hospital e todo o saber médico dos demais funcionários que enxergam um parto como algo perigoso e um bebê como um ser que pode morrer na ausência das mil intervenções hospitalares.


• Não queria ter que lutar por nada, brigar com ninguém. Queria permitir que meu corpo, mente e espírito fossem deixados em paz.


• Queria que meu filho fosse respeitado: não ter o cordão cortado antes da hora, não ser afastado de mim, pesado em uma bacia fria, enxugado com tecido agressivo, cegado com um colírio, receber injeções.

Para pagar um médico humanizado, uma doula, um pediatra humanizado, percebi que seria bem mais em conta parir em casa. E também, muito mais confortável e seguro. Afinal, as enfermeiras que por aqui trabalham em dupla estão aptas a identificarem qualquer intercorrência; elas trazem balão de oxigênio e outros equipamentos no caso de precisar reanimar o bebê; as bactérias aqui de casa são conhecidas pelo meu corpo e não existem megabactérias resistentes como no caso de hospitais.

Mas o que me levou verdadeiramente a optar pelo parto domiciliar foi o tratamento que esperava para meu filho, que mesmo em muitos hospitais humanizados, existem protocolos que são irrevogáveis. Seja a separação, seja o banho, o corte precoce do cordão, o nitrato de prata, o banho, o NAN ou Glicose no berçário, a Vitamina K, as vacinas etc.

Por isso parir em casa foi a minha opção. E sempre que encontro uma barriguda querendo um parto natural, entrego esta carta. Ela reflete porque desejo que todas as mulhres possíveis possm viver esta experiência.

E você, porque acha que devemos ou não devemos parir em casa?

Foto: Arquivo Pessoal - Miguel chegando em casa.