por: Kalu
Faz 2 anos e meio que segurei você pela primeira vez em meus braços. Ficamos a nos enamorar em êxtase, gratos e unidos depois de um parto absolutamente natural. Já não havia mais o cordão que me unia a você. Era estranho sentir o ventre vazio, ao mesmo tempo absolutamente prazeroso ter você em meus braços e o peito cheio de leite. Como canta Isadora Canto: é como se eu tivesse esperado toda vida para te embalar
Eu nada sabia sobre bebês e, bem da verdade, nunca tinha segurado um tão pequeno no colo. Longe da família, morando afastada da palpitaria, simplesmente tinha meu instinto e as experiências de mulheres mamíferas. Por isso, talvez, nunca tenha regulado suas mamadas ou achado estranho você ficar pendurado no peito o dia inteiro. Nunca deixei você chorando, ainda mais tão pequenininho. Passava o dia todo grudada contigo, alternando entre a amamentação e, quando você dormia, deixava você junto de mim dentro do sling.
Nunca imagnei que você poderia ficar dependente de colo ou que meu amor e carinho pudessem lhe fazer mal. Afinal, foram meses a fio que abracei você com minha entranhas, para dar o último abraço forte na hora do parto. Todo seu corpo precisava e respondia com tranquilidade quando recriava este ambiente que fora sua casa por 9 meses.
A pouca luz, uma água quente dentro do balde, um CD com música clássica com som do útero e uma toalha deixando você bem firme, causavam uma cena inesquecível: olhos que se fechavam como agradecendo por retornar para um lugar semelhante onde você cresceu. O sling causava este mesmo efeito recriador da vida dentro do útero.
Meu toque, minha voz a cantar as músicas que já entoava para você dentro do meu ventre faziam parte de nossa rotina baseada tão somente na minha intuição. Claro que as vezes me sentia cansada por não conseguir nem ir ao banheiro sem sua companhia. Mas dentro de mim sabia que estar integralmente com você era a coisa mais certa que eu tinha a fazer naquele momento.
Não sei ao certo, mas certo dia percebi seu desejo por interagir com o ambiente. Brinquedinhos pendurados chamavam sua atenção por algum tempo. Deixava você no chão, em cima de um edredon. Depois você começou a rastejar para alcançar os objetos da casa, o cachorro. Um dia você estava lá, engatinhando pela casa e quintal, voltando ainda muitas e muitas vezes para meu colo.
O tempo em que fui apenas seu mundo foi inesquecível e passou muito rápido. Eu aprendi a apegar para desapegar. A dar amor sem nunca negar, carinho e presença sempre que você precisou. Eu sabia que quanto mais eu permitisse que você fosse dependente quando deveria, mais independente seria por toda sua vida.
Desde cedo aprendi a ser seu porto seguro e também aquela que aplaude seus vôos solitários. Acho que por isso quando você fica na casa de suas tias, avó, babá ou com qualquer outra pessoa que lhe dê amor, você nunca pede pela minha presença, porque sabe que eu sempre vou voltar e você terá um colo cheio de amor para acalentá-lo.
Hoje vejo você brincar sozinho pelo quintal, com carrinhos e gravetos e a solicitar menos meu colo e minha presença. Isso me traz tanta felicidade, como quem colhe os frutos de uma dedicação intensa a um lindo jardim. Agora eu entendo quando alguém me falava: curta bastante que passa rápido. E como passa...
Sei que nos próximos meses muitas coisas vão mudar: você na escola e eu a trabalhar. Sua autonomia me dá segurança para voar mais tempo longe de você, para redescodrir meus outros papéis, pois tenho certeza que você ficará muito bem longe de mim. Porque o que construímos juntos é algo que não tem explicação, preço, nem fim...
Foto: Kalu Brum - Arquivo Pessoal
3 comentários:
Kalu,
Tô arrepiada e quase chorando, nosso instinto é fogo, né? Desde q meu pequeno gigante nasceu gosto de dar colinho para ele, e já penso q qnd acabar vou sentir falta, por isso curto demais cada momentinho.
Lindo de morrer seu post.
Beijão, Sil.
A cumplicidade de vcs é linda!
Beijos + Beijos minha querida!
Pé
Kalu,
muito obrigada pelo texto. Mais uma vez chego neste blog cheia de angústias e agonias e me deparo com um post que parece q foi escrito pra mim, pro meu momento com a minha pequena...
Obrigada e parabéns pra vcs
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