Nossas bandeiras estão por aí, na mídia. Das capas, aos editoriais, das pesquisas de opinião às colunas sociais. A Folha de S. Paulo de segunda-feira, dia 20 de julho, por exemplo, trouxe a triste manchete: Cesarianas já são 84,5% dos partos na rede privada, seguida de mais duas informações super importantes: No SUS, percentual chega a 31%; OMS recomenda máximo de 15%.
Hoje a mesma Folha volta ao assunto em seu editorial, citando os perigos da cesárea "Há dados a sugerir que essa escolha [pela cesariana] tem contribuído para elevar a quantidade de nascimentos prematuros. Além disso, estudos mostram que riscos de morte materna e de problemas respiratórios nas crianças são mais altos nesse tipo de parto".
O jornal destaca também que em 2004 a taxa de cesáreas na rede privada era de 79% e que, portanto, os números atestam que as campanhas realizadas e medidas como incluir o índice de cesarianas entre critérios de avaliação de operadoras de saúde foram inócuas. "Ao que tudo indica, a modificação desse quadro exigirá medidas mais profundas, que vão desde a formação universitária até a criação de centros de referência privados com estruturas que facilitem o parto normal.", diz o editorial.
Me digam por favor se há como alguém que tem o mínimo acesso a informações dizer que não sabe que a cesárea mata mais do que os partos normais? Me digam se tem como alguém contestar dados sérios como as recomendações da Organização Mundial de Saúde? Não faltam campanhas, o assunto está por aí, na mídia, nos jornais, na televisão,sendo discutido, explicado, justificado.
As campanhas recentes que tenho visto por aí são muito bem feitas, cheias de informações importantes e muito claras, como a do Coren, por exemplo, e as do Ministério da Saúde mesmo, como essa, com o lindo bebêzinho, essa, voltada para profissionais da saúde e essa, linda, com um slogan tão bonito "Deixe a vida acontecer naturalmente", (e que usei como imagem no meu post, aliás), além da mais famosa, com o depoimento da apresentadora Fernanda Lima, que teve parto normal de gêmeos. Sinceramente eu não consigo entender como essas idéias não "pegam"...
As pessoas andam por aí em pânico com medo da Gripe H1N1 e é impressionante como as informações sobre como se prevenir, como se precaver, se espalham com facilidade. Todo mundo sempre sabendo de um caso novo, todo mundo tratando a gripe como o problema do século, com medo generalizado mesmo, enquanto todos os dias médicos e mães colocam centenas de vida em risco mesmo estando diante das informações, escancaradas, claras, ocupando por exemplo a manchete de um dos principais e mais respeitados jornais do país.
O problema deve ser que ao invés de ler as manchetes e os editoriais, as pessoas preferem ler notícias como essas: "Demorou, mas chegou! Nasceu na noite desta terça-feira, 21, às 20h14, aproximadamente, Rafaella Pinheiro Justus, filha do casal de apresentadores Ticiane Pinheiro e Roberto Justus. Rafaella nasceu com 3,5kg e 48,5cm. O bebê veio ao mundo através de uma cesariana, no hospital Albert Einstein, em São Paulo. “O cordão umbilical e a posição do bebê, que estava alto, impossibilitaram o parto normal.”, contou a avó materna Helô Pinheiro ao EGO." Pra completar tem até essa aqui, com direto a fotos da moça chegando à maternidade, de malinha na mão.
Eu não fico brava com ela não, sabem? Não mesmo... Eu tenho é pena... De verdade... Será que nunca ninguém chegou pra Ticiane ou pro Justus pra dizer que "bebê alto" não é indicação de cesária? Será que ela nunca pensou nos riscos da cirurgia? Nunca pensou que bebê não tem prazo de validade, e que talvez as contrações que ela dizia sentir poderiam engrenar em algum momento? Sei lá, eu custo a acreditar que isso nunca tenha sido dito...
Será que o médico dela realmente acha que fez uma cesárea necessárea? Será que nunca aprendeu a fazer parto normal direito e ficou com medo de fazer bobagem justo num parto de uma famosa?
E me entristeço com as mulheres que infelizmente vão se "inspirar" no parto da Ticiane e de tantas outras famosas, achar lindo chegar na maternidade de bolsa na mão, caminhando, não sentir as dores do parto (e as do pós parto? As dores da recuperação da cesárea? Será que alguém vai comentar?)...
Será que só quando alguém famoso tiver uma séria complicação por conta de uma cesárea como acontece com centenas de mulheres anônimas e seus bebês as tais campanhas serão levadas a sério? O que será que falta para mudarmos essa mentalidade pró-cesárea?
20 comentários:
kathy,
estou de 39 semanas. na 38, meu go marcou a cesárea, alegando pouco líquido amniótico. conversei mto com ele e ele me revelou q tem medo das 'cacas' q aconteciam antigamente qdo a tecnologia não diagnosticavam os 'perigos' pro bb. medo de perder o crm. com meus argumentos ele disse q dava pra esperar uma semana e monitorar. não quero dizer q os médicos são os únicos vilões, mas nossa cultura é ignorante no sentido de respeitar acima de tudo um diploma de dotô. e se algo como a cesárea tá acontecendo tanto e todo mundo festeja, pra q tentar algo q mta gente (até mulheres da própria família) torcem o nariz? é cultural... e triste.
em tempo: dei stop nele e estou sendo acompanhada pela minha parteira apenas...
bjos!
(posso editar seu texto e colar no meu blog? só pra dar uma ajudinha, hehe)
Esses médicos colocam tantos fantasmas no parto normal e ninguém ousa discutir a "autoridade" do cara, eles sempre sabem mais do q nós e eu tenho certeza q eles tem culpa no cartório.
Fora a mentalidade de muita mulher que diz que parto normal é cesária, pq anormal é sentir dor.
é triste mesmo
Nossa, ten de tudo: por um lado a mega estrutura dos planos de saúde, a pressão para liberar a agenda do médico; a falta de uma formação correta nas próprias faculdades, pois quando eles são residentes já aprendem o abece da indicação de cesárea; a falta de apoio que as excelentes profissionais da enfermagem enfrentam permanecendo como sombras ao lado do dotô... e isso sem falar em algumas mulheres que são vítimas de sua própria vaidade e levantam a bandeira de que vão fazer parto normal com a cesárea já marcada, alegando um motivo inconsistente porque já fizeram o mapa astral do bebe, fizeram escova, unhas e make up pra sair bem na foto... ai, triste! fico indignada!
Parabens pelo post!
As vezes canso de repetir a mesma frase. A MALDITA cesária é uma cirurgia e oferece grandes riscos.
E já escutei até a perola: Parto normal é muito feio ficar lá toda arreganhada! =O
pasme
Triste realidade.
Deus me livre, mas acho que a realidade só vai cair NA CARA qndo algum lindo filho e mãe famosa morrer por conta de uma cesária mal sucedida! E sair na capa da contigo, tititi,Caras, Isto é gente etc etc etc
Ai sim quem sabe as pessoas dê uma brechinha na ignorancia e cai na real. Pq no Brasil é só assim mesmo, as princesas achando LINDO chegar de unha feita e fazer uma cesária e depois conversar por meio de Escrita, como a mãe da Ticiane disse que ela esta fazendo.
Revoltante.
Ui desabafei
Hoje no programa Mulheres, a Mamma Bruschetta disse que Ticiane Pinheiro não conseguia falar após a cesárea porque estava "grogue". E disse isso como se fosse super normal...
Eu tbm realmente sinto pena porque ela poderia ser mais uma a ter um parto normal e não teve.
Acredito sinceramente que os médicos "forçam" cesárea sim, até hj tenho minhas duvidas se meu filho precisava ser cesárea, teoricamente ele não virou completamente e não tinha mais espaço para virar... médicos são doutores, com formação e teoricamente com muitos partoa a mais que nós neh? até que ponto acreditar? é complicado!mesmo pesquisando muito não é toda mãe que tem coragem de "assumir os riscos"
Kathy
Tb me pergunto isso: porque essas informações não tocam as pessoas?
E mais importante, o que podemos fazer a respeito?
Kathy, muito bom o seu post, acho que ele vale muita reflexão.
A primeira de todas é que informação apenas, infelizmente,
não muda comportamentos, nesse caso nem das mulheres
nem dos profissionais de saúde.
A cultura do medo impera, pelo desconhecimento da fisiologia do parto e do nascimento, pela falta de modelos e de experiências positivas.
Por um lado os profissionais de saúde acreditam que quanto maior o controle e as intervenções, maior a segurança para eles, maior a
comodidade, a vida fica mais fácil.Não há confiança no corpo, a formação é centrada na doença.
Para as mulheres a fantasia que a tecnologia hospitalar trouxe avanços, que o corpo da mulher
não é capaz, que a dor é insuportável... O medo também de entrar em contato com uma experiencia tão forte, de perder o controle e se entregar para a natureza.
Por isso acredito tanto no poder transformador dos grupos de mulheres. As experiências concretas de algumas são capazes de despertar em outras
o desejo por uma experiência diferente.
O modo de produzir esse cuidado também precisa mudar, e nisso somos todos responsáveis,
o cuidado na hora do parto e nascimento é artesanal, não dá para ser na linha de montagem dos plantões obstétricos.
Acho que as campanhas devem existir, mas a mudança virá mesmo de dentro para fora...
Beijo
Eu nao sou mae ainda, mas acho incrivel ver essas mulheres gravidas nao terem o menor desejo de passar pelo parto normal, para mim e como se fosse um sonho mesmo, quero mto mto mto passar por essa experiencia enriquecedora e empoderadora e acho mto triste ver tantas mulheres simplesmente escolhendo nao passar por isso ou fechando os olhos e acatando tudo q os medicos dissem so para poupar tempo e dinheiro deles!
Amei o post e quero mesmo q isso se espalhe, outro dia fiquei mto feliz pois consegui trazer mais duas colegas de trabalho para o lado do parto normal, elas simplesmente nao haviam nunca nem se perguntado nem pesquisado a diferença e tal, ja foram falando em cesarea! Mas consegui mostra-las as vantagens do parto normal e elas mudaram de lado!!!
Beijos mamiferas queridas!
É, bons questionamentos... eu também me pergunto isso tudo todos os dias. Não entendo, nunca vou entender. Porque eu já fui a favor da cesárea, mas isso quando eu era adolescente e desinformada. Depois que comecei a ler, pesquisar, questionar, me tornei radicalmente defensora do parto natural, e quero ter meu futuro bebê em minha casa, se for possível!
Então, não entendo o que acontece com essas mulheres.
Acho que "a escolha" pela cesarea é cultural, mas isso nao tira a responsabilidade do profissional, da mulher e de toda a sociedade.
Por outyro lado, o Parto vaginal que conhecemos pode ser uma sessão de tortura em muitos lugares.
O que eu acho engraçado é que damos uma alternativa a isso, que é o parto em casa, e ainda sim acham loucura...
Entao qual a opçao que resta?
Se conformar? Jamais!
Realmente é de dentro par fora.
mas acho que algumas coisas estao mudando sim. observe os comentarios acima do meu. Todos te apoiam!
Há mto pouco tempo, PD era suicidio pra qq um, hj em dia hja vemos uma meia duzia que ate faria ou fará.
É devagar, pq o sistema medico atual é mto pesado. Mas estes novos casais estao vindo...
Um beijo.
Kathy, ultimamente tenho convivido com tantas grávidas e recém-mães que não consigo mais acreditar nesse negócio de medicina vilã.
É cultural? Pode até ser, mas nós também não fomos criadas dentro dessa cultura? E nós não optamos por sair dela, nos informar e fazer diferente? E no que nós somos mais capacitadas do que as outras? Somos especiais? Escolhidas de Deus? Acho que não!
Para os médicos é uma situação muito confortável, claro! Mas se a mulherada não optar fazer diferente isso não vai mudar nunca!
E não é só no parto não, é na formação dessas crianças, é no futuro que elas vão criar...as mães hoje não estão preocupadas em dar o melhor, e sim o mais comodo!
Essa semana tive que ouvir de uma amiga que começou a dar danoninho pra filha de 8 meses que dar fruta é muito trabalhoso!!!!!Que o danoninho é só tirar a tampinha!!!!
Acho que falta vontade, porque a informação esta aí, me arrisco dizer que falta mesmo é vergonha na cara! hahaha
beijos! ótimo post!
Felizmente(para os bebês)não houve casos de morte em cesarianas agendadas ás 37, 38 semanas, pelas celebridades. Mas casos de desconforto respiratório, por exemplo, já foram noticiados mais de uma vez, o 1º filho da Angélica, entre outros... e o pior, a desnecessária passa de vilã a heroína já que "salvou" o bebê que estava "sufocando" dentro do útero assassino.
Santa ignorância, batman!!!
Tive minha filha em um hospital do SUS, de parto vaginal maravilhoso. Estava com 40º semanas e a medica que estava de plantão foi um amor. Acho que temos que procurar mais informação e exigir que nossa vontade seja feita, mesmo o medico dizendo o contrario. Infelizmente, nem todas tem condições de ter seus bebês em casa. Mesmo poupando no enxoval, mesmo ñ fazendo quartinho, etc e tal. O que nos resta é a informação.
Infelizmente, o meu foi cesário...
P ignorância mesmo, p estar insegura, p ser de primeira viagem. Só Deus sabe o q sofri (a primeira vez q fiquei em pé chorei de dor e ñ sabia o q fazer, se ia p frente ou se sentava novamente) e o qto queria normal, levando toque todos os dias na 39ª semana.
A médica dizendo q ñ poderia esperar mais.
As ultras (uma a cada dois dias) diziam estar tudo bem, bte líquido, posição correta, ñ estava laçado, eu feliz da vida achando q iria ter um parto normal, mas...
Enfim...
Ainda bem q sobrevivemos e caso venha a ter outro, já mudei de médica q SÓ faz normal.
É preciso persistir nas campanhas. A obstetrícia no Brasil é baseada em hábitos e não em ciência,e hábitos a gente não muda da noite pro dia. É necessário cartazes, blogs, matérias na tv e no jornal todos os dias, para que daqui uns 20 anos a gente tenha uns 50% de cesáreas na rede privada. O processo é lento...
A propaganda da Nestlé, na década de 70, de divulgação do leite artificial, dizendo q o leite materno é fraco, repercute até hoje. SE a lentidão vale pro mal, deve valer pro bem também, né!?
Não podemos amolecer na batalha. Eu ei de ver muita mulher parindo ainda no nosso país. É preciso sonhar com uma taxa de 80% de partos domiciliares bem assistidos, par alcançarmos lentamente uns 50%PNH dignos.
Beijos, Geozeli
posso copiar e colar a resposta da debora?
pq ela escreveu, sem tirar nem por, tudo o que eu penso... rs
é isso, cultura do medo, desconhecimento do que é parto/nascimento, desconfiança na natureza e fé cega nas tecnologias existentes, além do medo absurdo de "perder o controle" (e perde mesmo, mas e daí? a "viagem" é demais, quem passou, sabe! rs).
eu tb acredito na força dos grupos que se agregam em torno desse assunto, parto (e amamentaçao tb), como pt de partida para mudança de paradigmas!
só assim para esperar que as mudanças (necessárias) aconteçam, de dentro para fora, em cada uma de nós!
bjs
ana b.
Concordo com a Débora e a Cacau, não acho que os médicos sejam os únicos vilões da história,pelo menos os que eu conheço concordam que na verdade, médicos nem deveriam acompanhar gravidez saudável, que só deveriam ser chamados para casos REALMENTE médicos, em que fossem necessário intervenção especializada, o médico com formação em Ginecologia e obstetrícia não é parteiro, então pela lógica ele não têm que ficar lá acompanhando um parto normal, ele tem é que ficar de plantão para o caso de um parto normal se tornar um problema médico, a medicalização do parto não foi boa nem para as mulheres e nem para os médicos, o problema a meu ver é o medo da própria mulher, medo da dor, de ficar larga e de dar alguma coisa errada e se sentir culpada por não estar em um hospital, e esses medos são culturais vai ser uma mudança bem lenta, mas se cada um fizer a sua parte a gente chega lá.
Kat, sabe aquele ditado "tudo que é bom, despenteia"? Pois é. Parir despenteia. É o mais saldável, é o mais natural, é o melhor para mãe e bebê na enorme parte das situações, e aqui tu sabe que eu estou contigo e não abro nem para um trem. Mas despenteia, Áurea. Não é fácil. Exige dedicação, muita dedicação. Paciência, mais ou menos como se fosse uma pescaria... Nervos no lugar, para não travar o processo no meio e para não sair correndo para uma cesa na primeira contração menos contracinha... Enfim, é preciso disposição, um esforço real da vontade, salvo aquelas de nós que parimos em um piscar de olhos, o que não é a maioria. Achho que, apesar das campanhas, falta disposição para encarar isso... Tanto dos médicos, como de algumas mulheres. Entre desinformação das gestantes, desumanização dos proficionais e falta de estrutura, sobra muito espaço para cesáreas eletivas e recuperações "muito boas". Uma pena, mas acho que é assim que as coisas se processam.
Beijos super a favor do parto normal, de quem ama as cesáreas... Desde que necessárias do ponto de vista da saúde.
Muito bom post! Adoro esse blog! tanto que tá lá na minha lista! Parabens!
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