por: Tata
///
Outro dia, escrevendo um texto para o trabalho que tenho feito para o blog do Boticário, comecei a pensar sobre as expectativas que criamos sobre nossos filhos, e como a forma como lidamos com elas faz a diferença, para nós e para eles.
Quando a gente engravida, começa a imaginar. A carinha do filhote, se vai parecer com a gente, se vai parecer com o pai, ou se não vai parecer com ninguém. Vai ser mais quietinho, ou mais agitado? Mais risonho, ou mais sério? Como será a personalidade? Tímido, falante, doce, simpático, reservado? Vai agir assim, ou assado? Tantas possibilidades!
Não tem jeito, a gente imagina mesmo. Desde os primeiros momentos de barriga, o filhote passa a existir pra gente, e é inevitável a gente gastar umas boas horas pensando em como ele vai ser. É até bacana que seja assim, porque é uma forma de receber aquela criança na nossa vida, abrir espaço, não só fisicamente, mas no coração.
O que acaba fazendo a diferença é como a gente lida com essas idéias depois que o bebê nasce. Porque eles nascem para ser o que são, e não o que a gente esperava que eles fossem.
///
Nossos filhos chegam ao mundo inteiros de liberdade, prontos para exercerem lindamente seu direito de ser o que são, sem padrões, sem cobranças. Eles vêm ao mundo para traçar seus próprios caminhos, para aprender e crescer cada um do seu jeitinho, único, especial. Incomparável. E a gente precisa respeitar esse espaço, ter jogo de cintura, lançar um olhar carinhoso, acolhedor. Porque as crianças não vêm ao mundo para corresponder às nossas expectativas. Elas vêm ao mundo para viver seus próprios caminhos, para serem o que desejam e precisam ser.
///
E o mais engraçado é que se a gente abre os braços, deixa de lado as cobranças, esquece as expectativas, acaba descobrindo que aquela criaturinha, que não é nada do que a gente esperava que fosse, é ainda mais incrível do que a gente jamais imaginou que poderia ser. É uma capacidade que os filhos têm, quando a gente se abre pra eles: surpreender-nos a cada instante, e sempre pra melhor.
///
Isso não quer dizer que eles venham para ser perfeitos. Não. Eles terão suas qualidades e seu defeitos, aliás, como todos nós. Terão sua cota de acertos e de erros, de conquistas e de tropeços. Porque é disso que se faz uma caminhada.
Com as minhas filhas, eu tenho aprendido que as fantasias que a gente tece antes do bebê nascer são apenas isso: fantasias.
///
E quando a gente se permite essa abertura, esse despir-se das expectativas, é que a magia acontece. E como é bonito de ser ver. A intensidade de uma criaturinha toda inteira, entregando-se sem reservas, descobrindo sua personalidade sem cerceamento, aprendendo a existir.
///
Essa é uma atitude que eu exercito todo dia, com as minhas filhas. Essa abertura, essa disponibilidade. Esse estar presente para elas, olhar e ver. Abrir-me para o que elas são, e não para o que eu imaginei que poderiam ser.
///
E como eu aprendo com elas! Com cada qualidade, com cada defeito. Com cada passinho, com cada recuo e com cada vitória. Cada dia que passamos juntas, é uma nova oportunidade de conhecê-las. A fantástica experiência que é abrir-se para o outro, sem projeções, sem impor nada. Apenas com todo o amor do mundo para acolhê-las como são.
///
E acaba que eu me conheço melhor, quando me vejo pelos olhos delas. Porque quando eu abro os braços para elas, elas também me abrem os seus. E que experiência fantástica, essa. Poder aceitar, e ser aceita. Amar o outro pelo que é, e ser amada pelo que sou, também.
///
Entre tantos aprendizados da maternidade, que fazem de mim uma pessoa melhor, a cada dia, que me ajudam a crescer, melhorar, amadurecer, essa tem sido uma das grandes sacadas: aprender a me abrir, a respeitar, a aceitar. A amar pelo que é, não pelo que eu espero que seja.
///
Cada uma das minhas três filhotas, cada uma do seu jeitinho, cada uma especial, única e incrível em sua individualidade, me ensina a cada dia a me despir das expectativas, dos anseios egoístas, e abrir os braços amorosamente.
///
A cada dia, eu aprendo com elas que na vida, quanto menos a gente imagina o futuro, e quanto mais a gente se entrega ao presente, melhor. Mais intensa fica a experiência, e mais fantástico é o aprendizado.
///
E afinal, é disso mesmo que é feita a vida: do presente. Aliás, é por isso que tem esse nome...
Imagem: arquivo pessoal (Estrela, Chiara e Ana Luz, minhas três companheirinhas, que me ensinam a cada dia...)
9 comentários:
Gostei da relação:
o que a gente imagina e como eles são...
Isso continua pela vida toda!!!!
Beijo!
Poxa!
que texto lindo! amei! me fez lembrar (claro) do meu filhote... achavamos que ele seria prematuro pq eu e o pai fomos prematuros e ele chega ate o fim da gravidez... achamos que seria pequeno, e olha o meninão! achamos isso, achamos aquilo e ele sempre vem e surpreende! é como vc falou, nem em meus mais belos sonhos ele seria tão perfeito! ele já tem 2 anos e cada dia ele me faz perceber o quanto Deus foi bom com a gente! Ele é lindo com todos os seus defeitinhos!
Lindo texto, Tata! É tão simples a gente ser feliz, é só se entregar às coisas verdadeiras da vida, ao amor dos nossos filhos... e complicamos tanto, exigimos de nós mesmos uma perfeição, um estereótipo que nem sabemos se poderia nos fazer feliz apenas por vaidade, egoísmo? Adorei o texto! BJs
Estou grávida e estou passando exatamente por isso. É tão gostoso ficar imaginando como minha filha vai ser, como vai ser sua personalidade, seu rostinho, seu cabelo, se vai ser calma ou agitada. Mas estou de coração aberto para receber minha princesa do jeitinho que ela for.
Beijinhos,
Ah... suas filhas são lindas, parecem muito carinhosas, que delícia!
Concordo plenamente com:
"...que não é nada do que a gente esperava que fosse, é ainda mais incrível do que a gente jamais imaginou que poderia ser"
Isso resumiu perfeitamente meu sentimento.
Parabéns!
Amei o texto, porque fala sobre essa aceitação da vida como ela vêm para nós, e aceitar a realidade é se despir das fantasias, esse é um caminho de vida inteira para as mães acredito eu, quando eu era mais nova tinha todo o cenário mental da descoberta da minha gravidez, seria um fim de tarde rosado e eu e meu parceiro iríamos de mãos dadas buscar o resultado do exame, eu estaria de vestido de florzinhas miúdas e ele me abraçaria e me rodaria nos braços ao descobrirmos, detalhe, eu fiquei sabendo da minha gravidez no banheiro de casa, vestida num pijama horrível, com um exame de farmácia, o zé tava em São paulo e eu contei por SMS, kkkkkkkkkkkkkkkkk Não que a realidade seja pior que o sonho é só diferente já dizia Herbert Viana "A vida não é filme". A descoberta do sexo foi a mesma coisa, eu sentia que era uma menina (embora sempre tenha dito que queria menino)e quando no terceiro mês ele abriu as pernas e tava lá aquele biliuzão, foi estranho, foi outra realidade, meu corpo de mulher estava gerando um corpo de homem dentro dele!!! Acho que vai ser assim a vida toda, um eterno aprendizado.
Concordo muito contigo. Imaginar é uma delícia, uma maneira da gente engravidar "na cabeça", especialmente nos primeiros meses quando a gestação não é tão óbvia. Mas tem que ter muito cuidado pra não transformar esse exercício em um manual do que o filhote tem que ser quando crescer. O único sonho que vale manter como meta é que ele ou ela seja uma pessoa feliz.
simplesmente LINDO...muita emocao..AMO MAMIFERAS
Postar um comentário