por: Kalu
Desde que mergulhei neste universo de parto natural humanizado e uma maternagem consciente, me tornei referência, para o bem e para o mal para amigos e familiares. Neste final de semana recebi a visita de uma grávida amiga do meu marido, cheia de verdadeiras vontades de parto natural. Ela, inclusive, tem ido nas rodas de mulheres da ONG Bem Nascer, da qual faço parte aqui em Belo Horizonte.
A primeira pergunta que ela me fez foi sobre a dor: mas não dói muito? Eu expliquei que não tive esta experiência com a dor, mas que as pessoas que conheci que sentiram "dor" disseram valer a pena, porque é uma dor que passa e depois você está pronta para cuidar do bebezinho. Além do mais, o "sorinho" com ocitocina é quem faz a dor aumentar consideravelmente. Expliquei sobre métodos não farmacológicos para alívio da dor, como água quente, massagem nas costas, caminhar, agachar. Disse ainda que muitas pessoas se sentiam acoadas e com medo quando iam para o hospital, uma vez que em alguns lugares não podem caminhar, comer, beber água e constantemente recebem exames de toque.
Ela me questionou sobre a anestesia e eu dei minha opinião que era: se você realmente achar que você está no seu limite, treine seu companheiro ou doula para motivá-la a aguentar um pouco mais. A anestesia pode aliviar a dor, mas, algumas vezes, faz com que a mulher perca a capacidade de sentir o momento certo de fazer força, além de não vivenciar "na pele"cada etapa do nascimento do bebê.
Falamos também sobre a importância da livre demanda e aleitamento exclusivo, de não dar chupeta para o bebê mamar mais e não desaprender a pega e, principalmente, para não ouvir os milhôes de palpiteiros de plantão. Ela e o marido aceitaram cada informação com alegria, respeito e entusiasmo. É uma delícia plantar uma semente em solo fértil, o que é raro.
Geralmente, quando começo a tecer minhas opiniões, sempre escuto: até quero um Parto Normal, mas sem anestesia acho ser radical de mais. Ou ainda: não vejo mal em dar chupeta ou uma mamadeira de vez enquando. Após tais afirmativas eu recuo, deixo de falar porque vejo que vou "gastar vela com mau defunto".
Cada dia mais tenho certeza que o que as pessoas fazem, pensam sentem de acordo com seu atual nível de consciência em todos os aspectos de suas vidas. Uma pessoa que, com uma dorzinha de cabeça toma remédio e não se questiona sobre os motivos de sua atitude, dificilmente achará normal parir com dor. Ela pode se informar sobre mil e uma coisas, saber dos benefícios, mas serão só informaçãoes. Acredito que é preciso ir além. Tem que ser viceral.
Enfim, não há problema nenhum em se tomar remédio para dor de cabeça, nem em optar por um parto com anestesia. Mas acredito que nossa sociedade vive anestesiada todo tempo e por isso não se mobiliza para um transformação profunda. Percebo que as pessoas estão muito distantes de sua natureza primordial, e, por isso, aceitam qualquer coisa para lhes tirarem a dor e o medo.
Algumas pessoas se sentem em paz por não "brigar" contra o sistema médico hospitalar, contra indústria do leite que nos fez acreditar que leite de vaca em pó é melhor que leite materno ou contra a idéia de que chupeta não tem problema porque acalma, que contratar uma enfermeira para cuidar do bebê a noite é status e qualidade de vida.
É difícil se sentir diferente a maior parte do tempo, lidar com esta solidão atroz de parecer que sempre se está pegando carona na contramão. Como não tomar remédio? Anestesia? Parir em casa? Não beber? Meditar todos os dias? Não ver TV? Fazer reiki?Amamentar um filho com 2 anos e meio? Não bater? Não medicar para febre? Isso é o que mais escuto todos os dias de convivência social.
Quando decidi pelo parto em casa, eu optei por mentir. Disse que ia ser com médico, no hospital famoso de BH. Falei isso também para amigos para não ouvir aquele mar de histórias traumáticas. Depois que meu filho nasceu contei orgulhosa e cheia de embasamentos científicos e empíricos da minha escolha que deu certo.
Mas não doeu?! Sempre me perguntam. Aí, com experiência vivida na pele defendo que não senti dor porque porque estava segura, porque não me colocaram sorinho, porque pude andar, dançar, comer, beber água, porque não tinha ninguém metendo a mão em mim toda hora para ver o quanto tinha dilatado. Minha experiência é válida, mas a vejo como fruto de muita coisa que tive que mudar dentro de mim para chegar aqui, o quanto tive que desconstruir minhas idéias e paradigmas, o quanto sofri, chorei. Sim, neste mundão nos sentimos só na forma de maternar.
Quando digo que meu filho dorme 5 horas seguidas desde que ele tinha 1 mês, as pessoas não acreditam. Dizem, você deu sorte de ter um menino bonzinho. Eu penso: será mesmo? Ou será que eu me coloquei a disposição dele para ele mamar o dia todo, que descansava durante o dia para, se necessário, estar inteira para ele de noite? Ou era que porque fazia reiki em mim ou nele quando ele chorara e o peito não funcionava, trocar a fralda não funcionava e simplesmente aceitava o choro com amor e tranqüilidade, repetindo mantras para me manter tranqüila e vê-lo, em poucos segundos a adormecer no meu colo?
Perdi as contas de quantas vezes escutei: não vai mais dormir a noite, não vai ter vida sexual. Isso são experiências de quem fala. A minha é outra. E a sua também. É claro que cada criança tem sua dificuldade e a vida muda muito. Mas para muito melhor. Não há verdades absolutas, mas posso dizer que tudo que aconteceu na minha vida foi reflexo das minhas atitudes e escolhas.
Fico feliz de poder dividir minha experiência e plantar sementes em solos férteis.
12 comentários:
É muito gratificante mesmo saber que a gente fez diferença,que a nossa experiência foi ouvida com interesse,sem pré-conceitos,e que terá a chance de mudar a vida de algumas pessoas para melhor.Nenhuma expressão poderia dizer tanto quanto essa que você escolheu-plantar em solo fértil.
É brochante quando a gente fala com algumas pessoas,que estão tão enraizadas nos seus pré-conceitos e nem sequer ouvem o que estamos falando,não estão dispostas a se questionarem sobre esta ou aquela conduta,simplesmente tomaram um rumo e seguem reto,parecem com aquele negócio que se coloca nos olhos dos cavalos pra eles olharem/seguirem sempre reto.
Outra expressão que não tem outra substituta com igual quilate é "Tem que ser visceral".
Você escreve preciosamente.
Grande abraço e uma salva de palmas
por eqto estou só na fase de dar exemplos... sou cercada de pessoas q acreditam piamente no diplomado pediatra e na super disciplinadora super nanny. escondo algumas atitudes, isso me incomoda um pouco. mas não canso de contar como dei mto de mamar, como converso com antonio e ele entende, como a shantala fez bem e como o yoga me deixou ativa e saudável na gravidez... parece q ninguém acredita, então, fico só no exemplo mesmo, hehe.
(ai q saudade de belzonte!!)
Kalu, lindas palavras!!!!!!!!
Meu solo é fértil, pode ir plantando!!!!!!!!
:P
"Percebo que as pessoas estão muito distantes de sua natureza primordial, e, por isso, aceitam qualquer coisa para lhes tirarem a dor e o medo."
VERDADE ABSOLUTA, COMO SE A DOR E O MEDO NÃO FIZESSEM PARTE DA NOSSA NATUREZA HUMANA.
Kaluzete,
Quem diz que o Mamiferas bandiou pra outros lados nao compreende a necessidade constante de transformaçao que temos que passar.
O mamiferas - e vc - vem passando por um amadurecimento a olhos vistos. E pode ter certeza de que nós leitoras tb.
Somos diferentes nao so qt a forma de parir, mas de desejar um mundo melhor.
Fico feliz em saber que ha mais pessoas preocupadas com o que seu filho assiste, com a maternagem, como o exemplo que da... Se ser radical for bom, por que nao ser?
Seu menino será um grande homem e com certeza nao pertencerá a esta "incoenciencia coletiva" como animais em bando.
Se eu nao puder fazer um mundo melhor, em especial atraves de meus filhos, nao vejo sentido em estar aqui.
Um grande beijo
Kalu, mais uma vez vc tocou bem fundo no meu ser. Ontem mesmo eu mandei uma msg para a lista de discussões sobre esta força imensa que esta gritando aqui dentro de mim a respeito do parto natural. Infelismente, por varios motivos, tive um parto normal hospitalar, o qual eu não queria de jeito nenhum. Hj penso assim: antes este do que uma cesariana. E isto vem me consolando. Mas com o nascimento do Eduardo ( 4,5 meses) a cada dia que passa ele me transforma de uma maneira inexplicavel: claro que eu não sou totalmente uma mamífera, pois peco muito ainda. Mas sei que com paciencia e maturidade eu chego lá.
Esta sementinha está germinando aqui no meu coração e está prestes a explodir. O solo aqui já está bem fertil, desde antes da gravidez. Eu não consigo explicar, mas é uma coisa que vai misturando os sentimentos, uma euforia, uma energia concentrada, uma vontade enorme de sair por aí tentando convencer algumas mães de que maternar não é apenas deixar um filho de barriguinha cheia, e limpinho no berço. É algo muito mais forte, e vai além do que o entendimento humano pode alcançar.É isso ai, não tem explicação´. Só vivendo mesmo pra saber o que é isso.
Obrigada mais uma vez, pois suas mensagens parecem inteiramente direcionadas a minha pessoa.
E olha que vc nem me conhece, heim??rss
Beijão, Erika.
E Eu como o pai que nunca (ou quase nunca) acordou a noite, que vejo a cria com "olhos que babam" e que não se cansa de dizer - como é bom poder fazer escolhas sábias - só tenho algo a te dizer: Meu solo já fecunda. Obrigado por vc existir.Com amor.
Mauricio
Que fofo o post do papai.
Tenho pensado muito nisso... A na internet como ferramenta para semear. Até os 5 meses de gravidez eu era totalmente alienada sobre tudo que se refere a parto e maternidade. Através da net encontrei um curso pre-parto, através do curso aprendi sobre a importancia de um parto respeituoso, optamos por parto domiciliar, e todas as outras escolhas vieram naturalmente... o não uso da chupeta, amamentar a livre demanda, optar por um ano "sabatico" para dedicar ao filhote... etc.
Tambem tenho um blog, e vejo que muitos chegam até ele, atraves dos sites de busca, com duvidas como sobre amamentação, pós-parto e sono. Prefiro acreditar que de alguma maneira plantei uma sementinha.
Essa semana tinha feito um post que fala sobre isso:
http://tinyurl.com/p3kl2n
a rede anda conectada.
beijos
Kalu, apenas uma palavra pelo seu post: OBRIGADA!!! Eu penso como vc, pena que as pessoas tentam tirar de nós a NOSSA experiência!!!
Johane Campos - esperando o nenem que já está com 6 meses e meio.
Kalu, realmente semear em solos férteis é gratificante, mesmo que as vezes a gente tenha que remexer a terra, adubar um pouco mais, deixá-la descansar...
No caso específico do "solo" deste posto, eu também estou felicíssima por estar participando desse lindo processo de empoderamento. Ela uma amiga em comum que eu e você temos, sabia!?
Bjos,
Carol Ratton
(mãe da Larissa - nascida na água há exatos 1 ano e 10 meses)
Carol ratton,
ela comentou que somos amigas em comum. Fiquei imensamente feliz de saber que ela está gestanto tanta coisa boa.
Beijos
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