por: Kalu
Quando eu era pequena, sempre que minha mãe brigava comigo ela dizia:
- Menina feia, gorda, chata. Ninguém vai gostar de você...
Essa frase me acompanhou por toda a adolescência e parte da vida adulta quando comecei a fazer terapia. Muitas vezes me pegava repetindo essa frase enquanto olhava no espelho e espremia uma pequena espinha que se transformava em um ferimento horrível no meu rosto.
Como mãe consciente e espiritual faço um trabalho bastante intenso de fortalecer a estima do Miguel. Agora estamos na fase do desfralde (que partiu dele) e quando acontecem os acidentes eu sempre digo:
- Não tem problema, filho, da próxima vez você consegue!
Antes de dormir sempre faço uma oração com ele e peço para que ele repita: sou forte, corajoso, inteligente, saudável, generoso e feliz. É uma intenção positiva que crio como referência interna.
Nunca permiti que ninguém o chamasse de chorão, de chato, de cagão. Elogio até o cocô fedido dele: Nossa que cocozão fedidão, hein?!
Em São Paulo, minha mãe algumas vezes ficava a repetir: Nossa, Miguel, hoje você tá chato. Como você está chato... Eu sugeri que ela disesse: Cadê aquele menino bonzinho e risonho que eu conheço? Cadê o menino bacana e carinhoso?
Esta semana Miguel se lançou a construir castelinho de madeira. Ele queria empilhar muitas peças pequenas e algumas vezes derrubava. Ele chorava diante de sua incapacidade. Eu repetia:
- Tenta com calma, filho. Você vai conseguir. Se cair você começa de novo.
Fiquei horas vendo as explosões de raiva dele quando sua torre despencava. Eu o confortava e estimulava a tentar de novo:
- Respira fundo, mais uma vez.
E quando caia batia palma e combinava com ele:
- Se cair de novo a gente bate palma, tá?
Eu acredito que estes primeiros anos são fundamentais para desenhar a referência interna de um ser-humano. Precisamos estar de olho para gerar este estímulo positivo, sempre. Estas frases ecoarão para sempre na psiquê dos pequenos. Outro ponto que acho fundamental é não coibir as manifestações negativas: raiva, choro, frustração são sentimentos legítimos que devem ser expressos, mas canalizados.
Há dias em que os pequenos acordam de mau-humor. Nestes dias eu sempre digo para o Miguel:
- Hoje é seu dia de chuva e eu sei que seu sol está aí dentro. Eu amo seus dias de chuva e sol.
Eu acho inconcebível um cuidador xingar uma criança e eu vejo acontecer isso com tanta frequência.
E vocês, como fazem para fortalecer a estima dos pequenos?
Foto de Kalu Brum: Miguel, felicidade em conseguir fazer seu castelinho.
9 comentários:
Oi Kalu,
Meu marido vivenciou muita violência em casa também, a mãe batia nele e no irmão todos os dias, das maneiras mais criativas...
Inclusive violência verbal.
Então, ele as vezes repete automaticamente os erros da mãe.
A primeira e única vez que ele bateu no Ravi eu o proibí. Eu vejo que ele se segura muito em alguns momentos
Mas ele já usou nomes perjorativos tb, e eu sempre falo, inclusive na frente das crianças que aquilo não é maneira de chamar ninguém, para ele parar de repetir erros de sua criação.
E eu reforço para o Ravi: Vc é muito inteligente, sabido, esperto....mamãe te ama...
Eu tb fico brava as vezes, mas percebo que quase todas(para não dizer todas) as desobediências dele acontecem para chamar minha atenção.
No mais ele é bem carinhoso, cuidadoso, alegre e bom, inclusive com a irmãzinha....
Oi,guria.
Também estou fazendo como você com a minha Luluka.Tudo bem que nossos pais são de outra geração,davam seus escorregões tentando acertar...mas eu fico sempre vigilante quando a Luluka encontra os avós:vez ou outra eu pego minha mãe dizendo "Menina feia","menina chorona"...aí logo dou puxão de orelha nela e faço ela se corrigir:"a senhora deve qualificar as atitudes e não a criança,mãe!","É feio riscar na parede;o certo é desenhar no papel" ao invés de "menina feia".
Frases positivas e explicando o porquê de estar sendo advertida não afetam a auto-estima da criança.
Vc falou tudo,kalu.
abç
Desde os primeiros aprendizados da Bru eu sempre fiz festa e parabéns e tudo. Isso virou tão nato nela que quando ela percebe que estamos tentando algo e conseguimos, a atitude dela é a mesma "Parabéns mamãe, você conseguiu!" e pra mim isso também faz muito bem, imagina pra ela?!
Também não permito que ninguém a xingue, e teve um epóca que o vizinho comecou a ensina-la a chamar os outros de "feio-bobão", eu pedi que ele não fizesse mais e conversei com ela apenas uma vez como sempre faço sobre o direito e espaço de cada pessoa.
Fico super feliz quando as vezes ela solta um "eu sou muito inteligente!", tenho muito orgulho disso!
Ótimo post Kalu!
beijos
Acredito que dessa forma a criança cresce mto mais confiante.
E nós adultos sabemos mto bem o poder da auto-confiança.
Quem acredita em si mesmo vai mto mais além.
Nossa, Kalu. Mais uma vez esta mensagem serviu diretinho pra mim, principalmente hoje. O Eduardo está gripado, eestá com o corpinho meio ruim, assim, como digo..ah, corpinho de gripe. Aí ele fica querendo colo, e fica balbucuiando as coisas. Mesmo passando mal e chorando muito, ele de vez enquando da umas risadinhas. Eu fico muito chateada qd meu marido chega perto da gente e pergunta pra ele pq ele está enjoadinho hj. Me dá uma raiva disso! Eu logo corto: ele não está enjoado, esta triste, ou passando mal. Ora bolas! Meu filho não é enjoado! Outra coisa que tb me deixa triste é qd alguem fala que meu filho é chorão. Que coisa desagradavel.
Parece que bebe não tem o direito de chorar, uai!
Tem uma frase que eu digo pra todo mundo: o que seria do mundo sem mãe??? Pq mãe entende até os balbucios de um bebe de 3 meses. Mãe entende que bebe quer colinho. Mãe entende que bebe quer atenção. è claro que estou falando de MÂE, e não de projeto, que só leva nome de mãe e fica desqualificando a propria cria. A nossa geração está aí só fazendo terapias e controles com psiquiatras ou outros profissionais por isso mesmo. Pois nós somos frutos de uma criação capitalista e comparadora: vale o melhor! O que dorme a noite toda, o que não chora, o que mama a mamadeira com as proprias mãos, o que nunca erra, o que anda sempre limpinho, o que fica quietinho vendo tv sozinho, e por ai vai. Eita mundo desgovernado, meu Deus. Vamos tentar mudar este pedaço do espaço em que vivemos com nosso amor de mãe e nosso calor de ser humano.
Beijos a todas, Erika
Olá Kalu!
Nossa, me deparei com seu texto e gostei demais.
Nossos pais cometaram erros conosco sim, alguns inconscientemente, outros tentando acertar, mas muitos deixaram arestas. Aconteceu comigo também.
Felizmente consegui vencer as barreiras, transcender. Hoje quero ser uma mãe diferente, amiga. É um desafio, mas estou de peito aberto, dando o melhor de mim para minha filha.
Beijos para vcs,
Priscila
Ps. Miguel é lindo.
Mais uma vez, adorei seu texto. Eu li um livro muito bacana chamado a auto-estima do seu filho, acho que a autora é Dorothy alguma coisa. O livro dá dicas muito bacanas sobre esse assunto e nos mostra o quanto podemos prejudicar a auto estima até sem perceber. Vale a pena a leitura.
um beijo, Renata
Linda foto ! Qual é a idade do Miguel?
Nossa, o Arthur fica uma fera tb quando não consegue fazer uma casinha maior do que 3 bloquinhos.
Gostaria tanto que todo pai e mãe tivesse essa clareza de espírito !
Bjs
Carol, é impressionante como se a gente não prestar atenção acaba repetindo padrôes, né? Que bom que você conseguiu mostrar um outro caminho para seu marido.
Vovókika (não sei se este é seu nome, rs), Amei sua sugestão de qualificar as atitudes e não a criança,mãe!","É feio riscar na parede;o certo é desenhar no papel" ao invés de "menina feia".
Cacau, que linda a sua Bru te elogiando.
Carla, com certeza as crianças crescerão mais confiantes.
Erika, realmente nosso mundão capitalista só quer valorizar o que é lindo, positivo e melhor...
Priscilla, como mães temos a preciosa opção de fazer diferente. certamente cometeremos outros erros, mas hoje podemos agir de maneira a preservar e fortalecer desde cedo o fator emocional das crianças.
Renata, obrigada pela dica de leitura. se você puder, mande algumas das sugestões da autora para a gente.
Aida - Miguel está com 2 anos e 2 meses. Não podemos mudar todas as mães, mas se fizermos a diferença para nossos filhos e inspirarmos apenas uma pessoa com um estilo de maternagem mais humano, já faremos uma grande diferença para o mundo.
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