por: Carla Schultz, mamífera convidada
Depois de três partos normais (dois deles naturais), depois de muitos olhos arregalados me achando tão corajosa, e de responder a mesma pergunta tantas vezes, resolvi escrever a respeito.
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A pergunta é: dor de parto dói muito???
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E a minha resposta é: depende.
Depende da sua expectativa, depende da sua experiência, de tudo o que você já ouviu na vida sobre isso, do que você absorveu no seu íntimo, das idéias que aceitou e das que está disposta a abandonar.
Também depende da forma como você encara essa dor, do ambiente em que você está, da forma como é tratada e amparada, e das pessoas que estão perto de você.
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No Brasil, a maioria das pessoas vê o parto normal como uma coisa horrivel, uma agressão, até. Principalmente por causa das tantas histórias de parto que ouvimos, recheadas de desrespeito e terrorismo. Mas na verdade, o parto respeitoso é maravilhoso.
No meu primeiro parto, eu estava desinformada, assustada, nas mãos dos profissionais que me assistiam. Me desesperei, aquela dor não passava nunca. Eu queria que ela fosse embora, mas ela não ia. Tomei anestesia, e sofri uma série de intervenções que eu nem imaginava.
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Depois disso, algumas fichas foram caindo, a informação conseguiu me tocar onde devia. E ouvi muito sobre o papel da dor do parto. Sobre o fato de as contrações serem ondas que vão e vem. E que elas poderiam ser até prazerozas, dependendo da forma como eu as encarasse.
No segundo parto, eu estava muito bem amparada. E quando pensei em desesperar, o anjo que me acompanhava (alguns chamam de doula) prometeu que não ia durar muito, e que se realmente eu não aguentasse, ela chamaria o anestesista. E me ajudou a mudar de posição, escolher a posição que me deixava mais confortável. E me disse palavras de apoio e força. E me lembrou que aquela dor ia e voltava, e quando ela não estava ali eu poderia relaxar. E tudo foi maravilhoso. A experiência foi fantástica. E meu corpo pode completar seu trabalho de trazer minha filha ao mundo.
E não é que fiquei grávida pela terceira vez? E, dessa vez, resolvi fazer a tal da yoga, que não fiz das outras vezes. E foi muito bom. Foi uma preparação muito além de física. Uma preparação da alma. Não que ela seja indispensável, mas pra mim foi muito bom. Foi ali que eu ouvi sobre relaxar durante as contrações e permitir que o único musculo contraído no meu corpo fosse o útero. E, quando ouvi isso, achei loucura. Mas ouvi a explicação de que quando a gente contrai tudo, tudo dói mais. E fui fazendo experiências durante a gestação com outros tipos de dores, e até memo aquelas contraçõezinhas do final da gravidez. E fui constatando que era verdade. Isso fez uma diferença incrível.
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Ao longo da gestação, participei de encontros, convivi com mulheres que tinham vivido histórias bonitas, e até incríveis de parto. Assisti a filmes e documentários que tratavam do parto com naturalidade e beleza. Li e reli livros que me deram força.
E quando a hora chegou, tudo foi maravihoso. Demorou mais do que todo mundo esperava. E a sensação de frustração pela coisa que não ia era imensa. Mas até dela eu lembro com carinho ou saudades, não sei definir muito bem. O ambiente, as pessoas que estavam comigo e me apoiaram, e o respeito que tive durante o último trabalho de parto, foram fundamentais. Lembro com clareza que a cada contração eu me lembrava de relaxar cada pedacinho do meu corpo, às vezes balançar era ótimo, e me concentrar na respiração fazia muito bem também.
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Isso não é uma regra. Cada mulher, cada corpo, reage melhor de um jeito.
Mas a dica é encarar a dor como parte do processo que vai trazer seu bebê ao mundo. É tentar lembrar que ela pode ser amenizada com movimentos, companhia, com o toque, com a respiração, com gemidos, com gritos... e sempre, sempre se entregar, deixar acontecer.
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Hoje eu digo sem medo de me acharem louca que a dor do parto é a melhor dor que já senti na minha vida. Uma dor que acaba no exato segundo em que o bebê nasce, e da qual a gente não consegue mais lembrar nesse mesmo segundo.
Uma dor que não mata ninguem, apenas engrandece, fortalece. Porque quando a gente acha que não aguenta mais, acha que vai morrer, é porque DE VERDADE está bem no finalzinho.
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E a recompensa é o que há de maior, de melhor na vida. Aquele olhar do bebê que acabamos de colocar no mundo é inesquecível, e esse prazer é insuperável.
Imagem: www.gettyimages.com
13 comentários:
Muito bom Carlinha!
A quantidade de mulheres que tenho visto que nem ao menos sabe o que é um plano de parto é assustadora, o nascimento (e os cuidados) estão sendo mais terceirizados que nunca, com consequencias assustadoras tambem.
Concordo contigo: preparação física, emocional e espiritual, busca de apoio, informação e assistência de qualidade, tudo isso faz uma grande diferença num dos eventos mais importantes na vida da mulher, o nascimento de um filho!
Bjs
Déia
Oi, Carla.
Que texto ótimo.
Realmente a falta de informação é chocante... O parto se tornou uma coisa médica, totalmente de hospital. E textos como o seu, de quem passou pelo parto ajudam muito a mostrar o outro lado.
Parabéns!!
Bjoks
Paula
Visitar este blog e dar de cara com um post maravilhoso destes só me traz tranquilidade e segurança para o dia do grande encontro com a minha filha. Por incrivel que pareça, quanto mais informação, mais visualização (DVD, cinema, filmes, documentarios) e interiorização pessoal durante os 9 meses de gestação nos prepara para encarar a dor e ve-la como algo normal e que, realmente, faz parte do processo de colocar um filho no mundo. Quanto menos informação, menos será o preparo psicológico e maior será o terror da dor do parto. Muito obrigada Carla, por fazer parte de mais uma pecinha de informação do meu dia, que me acalma e me prepara para o dia em que minha filha virá ao mundo, daqui, aproximadamente, seis semanas.
Beijo grande!
Carla, lindo texto!
Também sinto saudade, até da dor... e do expulsivo demais! Quero fazer força de novo! rs
bjs
Pata
Oi Carla
muito bom ler seu texto, porque você muito claramente das que eu sei tão bem, que são tao assim pra mim também, mas que eu não sei expressar com essa lucidez e clareza que você fez.
vc está com a verdade das coisas, a resposta é essa mesma: DEPENDE de cada mulher, DEPENDE do que ela realmente tá afim de viver - pq informaçao nao falta mesmo, é só querer buscar
bjs
Ale
Que lindo seu texto, Carla, parabéns!!
Penso muito em como será meu próximo parto (quando eu engravidar, lógico) e quero que seja algo natural também. Achei extremamente lindo o que você escreveu e, num país cesarista como o nosso, ao mencionarmos "parto natural" todos nos acham ETs... fazer o que.
Beijos
PS: Já estou fuçando seu blog, é muito lindo!!!
Oi Carla,
Também acho que este medo da dor tem grande parte e culpa as histórias que ouvimos de partos trturadores. Realmente um Parto Normal Frnk não tem nada de poético. A ccitocina faz a mulher ir a lua e voltar. Mas um parto que a mulher se sente segura, está em um ambiente confortável, se vale da água e massagem para amenizar a dor, o resultado é uma dor menor e um prazer maior. Lindo texto. Parabéns.
Adorei seu texto. Deu até vontade de ter outro filho, rsrs!!! Meus dois foram de parto normal, com orgulho e com saudades.
Luz e paz pra todas.
É mesmo delicioso proporcionar e compartilhar com nossos bebês o ato de nascer.....
Adorei!
Carla, o seu texto é o máximo e a sua cara!!! Quem te conhece vai te vendo e ouvindo a sua voz a medida em que se lê o texto. MARAVILHOSO!!! Obrigado por compartilhar de uma maneira tão bonita a sua experiência que é ainda mais bonita!!!
Um beijo e muita saudade.
Alessandra Dumont - SP
Menina, obrigada pelos comentários!
Senti muita vontade de escrever sobre isso porque tenho observado muito essa insegurança nas gestantes com quem tenho convivido e estou muito feliz de ter publicado aqui!
:)
Menina, obrigada pelos comentários!
Senti muita vontade de escrever sobre isso porque tenho observado muito essa insegurança nas gestantes com quem tenho convivido e estou muito feliz de ter publicado aqui!
:)
Muito bom o texto Carla, parabéns!
Conseguiste traduzir em palavras tudo o que pensas e sentiste em tuas experiências.
Eu tive um parto difícil e normal, mas boa parte do sofrimento foi devido a fatores externos e equipe médica, e eu inexperiente não sabia como lidar. Acredito firmemente que no próximo será tudo muito diferente!
Beijos
pri
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