por: Tata
"Colo demais estraga!", "Seu filho vai ficar mimado!", "Continua dando colo, que você vai ver quando ele estiver grande!", "Deixe ele chorando no berço, ninguém morre de chorar um pouquinho!", "Você precisa ensinar o seu filho a ficar no berço, senão ele vai ficar muito dependente de você!".
Que levante a mão a mãe que nunca ouviu uma das frases acima (ou pior, como no meu caso, todas elas, e vez ou outra até combinadas, uma na rabeira da outra, uma tristeza). É fogo!
Eu sou daquela turma esquisita que acha que lugar de bebê é no colo da mãe. Que acredita que bebês não são mimados, não têm "maus hábitos", não são manipuladores nem jogam com os sentimentos e comportamentos da mãe. Sou daquele tipo curioso que acredita que bebês têm necessidade de aconchego, de toque, de proximidade, e só. Simples, não? Parece até formula mágica. Mas o pior é que funciona.
Imagine só que seu bebê passou nove meses no aconchego da sua barriga, um lugar escuro, silencioso, aquecido, onde ele tinha todas as suas necessidades prontamente atendidas e sentia-se absolutamente satisfeito e protegido. De repente, sem aviso, ele se vê às voltas com um mundo repleto de cores, luzes, sons desconhecidos, texturas estranhas, sensações novas como frio, fome, sede, dor. É tudo assustadoramente novo para eles, que se sentem desamparados diante desse turbilhão. E pense bem, você não se sentiria? É por isso que eles pedem pela mãe, que é a referência mais forte que eles conhecem.
Eu não acredito em "carinho demais". Acho que carinho, proximidade, toque, é sempre bem-vindo, nunca é exagero. Quero que minhas filhas aprendam que não estão sozinhas no mundo, que podem contar comigo sempre que precisarem, e que pedir colo não é demonstração de fraqueza. Pelo contrário. Precisa coragem para aceitar uma mão estendida, num mundo tão aficcionado pela idéia de que independência, quanto mais e mais cedo, melhor.
Eu nunca neguei colo às minhas filhas. Pelo contrário, dei (e dou) toda a atenção que elas demonstram desejar e precisar. Porque também disso se alimenta o ser humano. Não adianta só suprir as necessidades práticas, físicas, objetivas. É preciso também acarinhar, dar do nosso tempo, doar-se do mais fundo da alma.
Bebês são seres naturalmente dependentes, naturalmente apegados, e não há nada de errado nisso. Há hora para tudo na vida, há um momento certo para as coisas. E nossos filhos também, um belo dia, quando menos esperarmos, estarão soltando as mãos e dando seus passos firmes sem sequer olhar para trás. E nessa hora, nós é que ficaremos ali, sem conseguir disfarçar um tantinho de desamparo, uma vontade doída de mais colo, de mais pele, de mais aconchego. E uma vontade incontrolável de fazer o tempo voltar.
Imagem de Gustav Klimt, em http://coresdoaquario.blogspot.com/
4 comentários:
eu tenha uma necessidade física de proximidade com o Biel. Eu preciso abraçar, pegar, beijar, dormir junto. Não entendo como alguém consegue deixar chorando. Não condeno pq cada um faz o que acha melhor, só não entendo. bjs
Sem palavas Rê!
bjs
o que costumam chamar por aí de "mal acostumar", com relação às nossas crianças, eu digo que, na verdade, é "bem acostumar"... mal acostumados são os que, infelizmente, não têm carinho, atenção e amor.
amar é sempre bem acostumar.
beijocas...
Bravo!
Preciso confessar que como boa palpiteira (nunca fui mais do que palpiteira, já que não tenho filhos ainda) sempre censurei a minha mãe por mimar tanto minha irmãzinha pequena. Mas olha, lendo esse teu texto percebo a veracidade do teu ponto de vista. Obrigada por esta nova visão!
Um abraço!
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